Páginas

terça-feira, 24 de maio de 2011

O Rush das Dez


Conhecida no mundo inteiro seja no começo do dia ou no finzinho da tarde para início da noite, a Hora do Rush (ou hora do pico, hora do pique ou mesmo rush hour), são momentos de grandes congestionamentos que ocorrem geralmente em grandes cidades cuja população está em traslado de casa ao trabalho (ou outras atividades) e vice-versa. No Brasil este horário costuma ser entre 6 e 8 da manhã e entre 5 e 7 da noite. Na região metropolitana do Recife este horário varia de acordo com o clima.
Imagine um dia de sol e maré baixa, coisa que acontece em Recife entre setembro e abril (excetuando-se as chuvas de verão), e temos um quadro de forte calor, racionamento de água, contudo um transito mais tranqüilo. Os horários de rush são bem pré-definidos e sabemos perfeitamente em quais ruas podemos trafegar entre 6 e 8 da manhã e entre 17 e 19 horas. Contudo quando vem chegando as águas de março (que este ano chegaram em meados de abril) com as nuvens escuras e as luzes brilhando e rasgando o ar, aí o quadro muda. E muda muito. É só saber que um dos dias em que a chuva combinou com a maré pela manhã, ninguém conseguiu sair de casa. Um percurso que eu levo de casa ao trabalho de aproximadamente 45 minutos em dias normais chegou ao incrível recorde de 3 horas. Algumas ruas viraram verdadeiros rios, os engarrafamentos nas BR´s eram de se perder de vista e as rádios de notícias eram claras ao informar ao povo: “não saiam de casa”.
         O Twitter hoje é uma necessidade do povo metropolitano do Recife, ler o @transitorec_ é quase tão necessário quanto ler jornal, escutar a cbn e a rádio jornal quando se quer estar bem informado, ou mesmo tão importante quanto abastecer o carro em um posto confiável quando se quer ter a certeza de fazer um translado com tranqüilidade, sem maiores riscos. As informações postadas neste Twitter, bem como o do JC TRANSITO, são cruciais para quem quer ter a se
gurança de estar bem informado o tempo inteiro e não ficar preso, alagado ou dentro de um buraco.
A utilização das redes sociais para informação sobre transito só falhou (e parou a cidade) em um dia que se espalhou que a barragem de Tapacurá havia rompido. Universidades fecharam, Shoppings fecharam, escolas fecharam, muita gente ficou em pânico com medo de um boato que vez por outra alguém faz rodar no Recife daquele 05 de maio de 2011. Até o governador precisou ir à rádio para acalmar a população e explicar que foi a barragem de Carpina que teve que abrir um pouco e gradualmente suas comportas por conta da quantidade de água acumulada. Nada de Tapacurá ter rompido nem aberto comporta, já que nem comporta ela tem, ela na verdade possui um tipo de exaustor de água que jorra levemente como uma pequena cachoeira apenas quando é muito necessário.
Ficou na história do Recife em julho de 1975, após uma enchente que matou mais de 100 pessoas e deixou cerca de 80% do Recife sob as águas, o primeiro boato sobre a barragem construída dois anos antes. O desespero das pessoas era tamanho que as pessoas chegavam a fugir dos hospitais ainda com a roupa de paciente em atendimento, outras procuravam seus parentes para morrerem juntos, algumas pessoas corriam desesperadas no meio das ruas e procuravam carona para saírem de onde estavam para procurar um lugar mais seguro. Prédios altos eram invadidos e as pessoas corriam subindo para o andar mais alto que pudessem, carros andavam na contramão e os motoristas gritavam “Tapacurá estourou!”. A situação somente se normalizou quando o então governador José Francisco de Moura Cavalcanti tomou conhecimento de que Tapacurá estava normal e procurou o Diretório Central dos Estudantes e a imprensa. Aos poucos a situação voltou ao normal.
        Hoje o trânsito no Recife mais parece um nó. Os jornais falam do problema todos os dias, a Companhia de Transito e Transporte Urbano é o órgão mais criticado pela população, as reclamações são sempre as mesmas, mas ninguém resolve. Pelo contrário, Pioram! Uma das principais avenidas do centro do Recife, a Conde da Boa Vista, teve um projeto recente de reforma que conseguiu piorar o que já parecia um caos. Uma via sem drenagem, estreita, onde apenas um carro passa por vez (se alguém parar a fila inteira para, aliás, é proibido parar ao longo de toda via), os ônibus não têm espaço para trafegar em horário de rush, enfim, uma via que ficou péssima de andar em horários normais e impossível de trafegar em horário de Rush.
Quem achar que o que eu escrevi é a constatação de uma situação ruim, pasme, pois piorou. Recife tem um novo horário de Rush: é o Rush das Dez. Pelo menos em dia de chuva. Há no centro do Recife uma concentração de faculdades, algumas no bairro do Derby e outras no bairro da Boa Vista, além de vários cursos preparatórios para concursos, todos com horários de encerramento por perto das dez horas da noite. Neste horário o trânsito passa por aproximadamente 15 minutos de alto fluxo ali naquele entorno e depois fica livre novamente, mas nada comparado ao trânsito matutino complicado nem ao quase caótico do fim da tarde. Isso se não chover. Neste dia 23 de maio de 2011 eu vi o Rush das Dez parar o Recife. Entre nove e meia da noite e onze horas da noite, todo aquele entorno que pega os quatro cantos do Derby, a Rua Henrique Dias, a Rua Dom Bosco, a Avenida Manoel Borba, a Rua Gonçalves Maia, a Rua Oswaldo Cruz, a Rua João Fernandes Vieira e a Agamenon Magalhães daquela altura simplesmente parou. Algumas chuvas rápidas durante o dia inteiro que se intensificaram no começo da noite e uma chuva calibrosa de uns vinte minutos próximo das 22h, somada à maré alta que  teve seu pico de 1,66m às 20:30, foram suficientes para Recife virar um parque aquático. As ruas e avenidas que citei neste artigo estavam todas com água ou de ponta a ponta os nas laterais da pista. O resultado foi exatamente o mesmo de quando a coincidência de chuva e maré alta ocorre no começo da manhã ou no final da tarde: Caos. Percursos de 10 minutos tornaram-se 1 hora, igualzinho aos outros horários de pique. Enfim Recife, cidade grande, copa do mundo a vista (não é na cidade mas esta é a capital) ganha um novo horário de pico: É o Rush das Dez!

4 comentários:

  1. ÓTIMO ARTIGO. Muito bom mesmo!!!
    Qualquer precisaremos de BOTES, BARCOS, LANCHAS, pra andar nas ruas de recife em dia de chuva!

    ResponderExcluir
  2. corrigindo: qualquer dia**

    ass. Néli Lima
    (to assinando pq esse blogger ta cheio de preguiça e só permite postar anônimo)

    ResponderExcluir
  3. naaaooo ele nao está cheio de preguiça... ele está cheio de FRSCURA! aff

    ResponderExcluir
  4. É caro observador, Recife e Região Metropolitana não combinam com água definitivamente! O transito caótico infelizmente não estava apenas no centro da cidade do Recife, na BR 232 também, nas redondezas da Cidade Universitária e Av. caxanga. Estava impossível de trafegar na BR de forma segura por que além do congestionamento ainda existi o péssimo escoamento de água na pista. Situação revoltante.

    ResponderExcluir

Quem disser que escreve APENAS por hobbie e não faz questão que ninguém comente É UM GRANDE MENTIROSO!!