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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A menina do interior.

Estava beirando os trinta anos. Filha mais velha de uma família do interior de Pernambuco, Débora via-se pressionada a casar-se logo por conta dos casamentos da irmã do meio e do irmão mais novo. A irmã do meio inclusive já tinha tido filhos, gêmeos, eram os xodós da família inclusive da titia coruja.
Um grande problema é que aquela menina franzina que aparentava ter 15 anos tinha sua sorte para namorados antagônica à sua beleza. Linda, atraía todo tipo de homem seja mais novos, mais velhos, casados, noivos, em alguns momentos se apegou a alguns deles, mesmo alguns noivos e outros com namorada, nunca algum casado, pelo menos não que ela soubesse. Outro problema era o fato de ser virgem, carregava a pressão da família por casar-se virgem e não ser motivos de falatório na cidade da família.
Era uma injustiça o que acontecia com Débora, a irmã casara grávida e jurava que era virgem a todo mundo. Mas como casou-se com alguém da própria cidadezinha, aquilo entrou pela perna do pinto e saiu pela perna do pato e ficou por isso mesmo. Até por que o casamento aconteceu antes da barriga crescer então quando os falatórios iniciariam o casamento já estava consumado, então as fofoqueiras da cidade não tomaram tanto gosto pelo assunto.
A pressão ficou com ela e era renovada a cada visita no interior:
- Essa é o orgulho da família. Cinco anos estudando no Recife e não me dá desgosto, vai se formar e se Deus quiser casa logo em seguida, e virgem! Dizia com orgulho quase que aplaudindo a filha a exigente dona Inaura.
Já a irmã dizia olhando de lado e com um sorrisinho sarcástico, malicioso:
- Morando cinto anos no Recife e virgem... sei... cuidado não Débora, mentira tem pernas curtas. Eu antes de engravidar também era virgem.
Os comentariozinhos da irmã eram tão constantes quanto irritantes sempre que visitava a casa dos pais. Não se davam mal, mas o fato da santificação de Débora fazia com que a reação da irmã fosse sempre arisca quanto a este assunto.
Certo dia Débora conhece Tony, moreno de olhos azuis intensos e rosto de menino. Um rosto tão angelical que fazia todas acreditarem que é apenas um menino alto necessitando proteção, apesar dos trinta anos de idade. Débora apaixonou-se pelo rapaz e foi correspondida. Não na mesma intensidade, mas se comparados aos outros relacionamentos, Débora fora uma premiada.
Tony estava acostumado a ter belas pequenas próximas a ele e era agradável com todas. Era tão atencioso que várias delas se julgavam as únicas ou as definitivas. Havia quem tivesse certeza de ser a alma gêmea e algumas mais exageradas afirmavam que era um relacionamento que vinha de outra vida. O problema era que, mesmo sendo alguém muito simpático, carinhoso e atencioso, Tony tinha pavor de casamento. Dizia “Casar é bom, mas morrer queimado é melhor ainda”. Certo dia o pai cobrou com ar de preocupação:
- Filho, estás bem empregado, estás com trinta anos, necessitas casar-se. Eu estou velho e queria muito um neto para alegrar a vida minha e de tua mãe.
O pai de Tony foi um jovem arruaceiro. Mesmo casado, vivia entre as farras e o trabalho. Nada faltava em casa, sempre manteve uma vida de várias regalias para a família, mas faltou com a presença durante toda a infância dos filhos. Agora já beirando os sessenta anos e com problemas no coração, via com ar de inveja os amigos exibindo os netos bebezinhos e se fascinava. Dizia “Esta casa está precisando de uma criança”.
Um dia após o café da manhã, aproveitando um momento que Tony retirou-se da sala de jantar, Seu Mauro faz a cobrança numa súplica de dar pena:
- Débora, escuta bem. Eu quero um neto.
- Mas seu Mauro, Tony nem quer casar.
- Quero que saiba de uma coisa, eu te apoio no que fizeres. Te apoio no que quiseres. Só quero um neto.
Aquele pedido martelou sua cabeça pelos dias seguintes. De um lado a mãe cobrando a virgindade, do outro lado o sogro cobrando um neto. A cobrança do sogro era melhor aceita pelo coração da pequena. Ela também queria um filho, ela não se importava com a virgindade, mas morria de medo de comentários típicos de interior “Tá vendo? Foi estudar em Recife e voltou com barriga” ou mesmo “Olha aí no carrinho o diploma de faculdade que ela foi buscar”. Era um dilema e ela pressionava Tony:
- Tu sabes que teu pai quer um neto. Por que não casamos?
- Calma meu amor, não tenhamos pressa. Tantos casais eu conheço que se apressaram assim e não foi bom.
- Não tem que se comparar com ninguém, Tony, isso é uma desculpa esfarrapada!
- Nada disso. Acho bom ficar calma aí. Vamos esperar pra ver se realmente é a coisa certa, isso virá com o tempo.
Débora sabia que o fato de ser virgem era indiferente para o namorado, aliás, era um ponto fraco no relacionamento pois certamente ele não casaria com alguém antes de ter uma vida sexual ativa. Ela também não se importava em ser ou não virgem mas o medo de engravidar por conta da reação da mãe era algo assustador até ali. Porém o desejo do sogro em ter um neto fez esse medo entrar em confronto com uma vontade até então desconhecida de ser mãe. Então naquela mesma noite:
- Tony, estou decidida. Esta noite quero ser sua.
- Tem certeza meu amor? Não quero forçar você a nada, falou Tony torcendo para que ela não voltasse atrás com a decisão tomada.
- Tenho sim.
- Tudo bem, deixa eu pegar preservativo, sei do teu pânico de engravidar e não quero causar tristezas.
- Obrigado meu amor, eu sabia que seria cuidadoso comigo, vem, estou decidida, sou tua.
Foi uma noite incrível. Os dois só adormeceram quando o sol já brilhava alto. Durante todo o dia ficaram no quarto, a gaveta de roupas onde ficavam vários preservativos que o pai dava para Tony quase se esvaziara deste artigo. Pausas apenas para comer, tomar água ou ir ao banheiro. De resto foram duas noites e um dia inteiro dentro do quarto tal qual um casal em lua de mel em pleno namoro.
Um mês depois o improvável acontecia. Débora estava grávida. O exame que foi feito na certeza do resultado negativo surpreendentemente deu positivo. 
- Mas como? Impossível, esse filho não é meu! Sempre usamos camisinha, grita Tony trancado ao quarto junto com Débora.
- Mas meu amor, eu não sei, dizia ela chorando, eu nunca fui de outro somente com você.
- Débora, não tem como, como foi isso?
De repente alguem bate à porta:
- Tony! Chama o pai que escutava a conversa por trás da porta.
- Sim pai.
- Me diga uma coisa meu filho, vocês usaram apenas os preservativos que eu te dei?
- Sim.
O velho abraça-se ao filho chorando e dizendo.
- É meu neto, é meu neto.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Consultoria.

Seis e meia da manhã. Após o café, um beijo na testa da esposa e uma breve conferida nas páginas de esportes, economia e alguns outros destaques da capa. No alto dos seus sessenta anos, Gonçalves nunca lia as páginas policiais “Inúteis, notícias que não servem pra nada”, ralhava. Sua mulher, uma jovem senhora de sessenta e um anos era de uma calma tibetana e retirava a mesa olhando o relógio de parede, sempre atenta ao horário para que o marido não perdesse o dia de trabalho. As sete Marilene avisa:
- Meu bem, são sete em ponto. Acho melhor ir logo, pois com esta chuva o transito pode ficar ruim.
- Tudo bem, já vou indo, falava calmamente enquanto tirava os chinelos e calçava os sapatos pretos impecáveis.
Gonçalves era um respeitado consultor em administração. Trabalhava numa não menos respeitada consultoria da capital pernambucana e tinha no currículo o salvamento de várias empresas que estavam em profundas crises antes de contratar o trabalho da mais alta qualidade do Sr Gonçalves.
Ao chegar no trabalho, a novidade:
- Gonçalves, lembra da queda nas ações daquela empresa de transporte? Batata, é crise! Já ligaram pra cá faz 5 minutos, vão retornar daqui a pouco. Pelo tamanho da bomba é melhor que seja você pra encarar.
- Deixa comigo, eu já vinha tendo acesso às atas e já até sei mais ou menos por onde começar.
Era um profissional muito proativo. Quando começou a ter informações da queda da empresa de transportes já previu que poderiam precisar de consultoria. Já foi estudando as causas e as possíveis saídas e antes que a bomba estourasse já tinha pensado por onde começar a consertar os problemas que geraram a crise.
O fato é que aquela empresa de transportes estava com seu gráfico em queda livre e precisava de medidas urgentes para não entrarem no fundo do poço, pois já estavam na metade dele. Conversaram com o experiente Gonçalves e fizeram uma ressalva:
- Estamos chamando duas empresas de consultoria, espero que não se importe. Gostaria de ter pontos de vista diferentes e que vocês conversassem para chegarmos ao ponto mais seguro de decisões a serem tomadas.
Gonçalves não fez protestos. Confiava em seu trabalho, mas aceitou sem problemas a participação de outra empresa na resolução do problema. Na primeira reunião marcada conheceu a representante da outra empresa. Ficou embasbacado. No alto de um salto de sei lá quantos centímetros estava uma morena de matar. Ao quarenta anos, Clara contrastava seu nome com o bronzeado da pele perfeita, os cachos caiam pelas costas numa sincronia sinfônica. Nunca fora casada, o mais perto que chegou disso foi um noivado de dez anos que se dissipou rumo ao rabo de saia alguns anos mais nova. Depois disso resolveu entregar-se ao trabalho e cuidar de si própria e fazia isso com perfeição. Era uma profissional que chamava a atenção por sua altivez, segurança e beleza. Aquela “menina”, na visão do Sr Gonçalves, tinha 20 anos a menos de experiência e 100 anos a mais de impetuosidade. Por ser mulher em um meio tomado pelos profissionais do sexo masculino, teve que crescer na profissão mostrando força e determinação. A empresa acertara na mosca, Sr Gonçalves e a Sra. Clara fizeram um belo trabalho e atingiram os objetivos. Porém por força do trabalho que não foi nem um pouco fácil, precisavam se encontrar várias vezes por semana e se telefonar outras várias por dia, o que criou nos dois inicialmente uma amizade intensa e depois um envolvimento inevitável.
- Clara, jantamos juntos amanhã?
- Hummmm, depende.
- De que?
- Só se você me prometer que jantaremos juntos também depois de amanhã.
Após alguns jantares o romance começou a acontecer e o fogo intenso daquela loba não fez questão de cerimônias. Ela que já pensara tudo antecipadamente fez questão que o encontro fosse no carro dela, ora, quem dirige é que manda no destino. Então sem perguntar nada, sem nenhum pudor desnecessário dirigiu-se a um motel enquanto Gonçalves apenas observava com os olhos arregalados. Dizia “Não é melhor irmos com calma?” e ela sorriu respondendo “Meu bem, essa pergunta quem deveria fazer aqui era eu, a mulher aqui sou eu”.
Com a frieza pacata do casamento e a pressão do trabalho, Gonçalves estava sexualmente adormecido fazia tempo. Aquela situação acabou deixando-lhe tenso e nada demais aconteceu naquelas horas dentro da suíte. Clara compreendeu e não fez cobranças nem comentário. Agiu como se tivesse ido àquele motel apenas para conversar e curtir de forma leve. Ao chegar em casa ralhou sozinha “Que droga, o que há de errado comigo?”. Olhava-se no espelho, checava o próprio cheiro mas não via problemas. Pensou “Mulher bonita assusta” e deu um sorriso antes de dormir.
Gonçalves chegou em casa um pouco frustrado e no outro dia procurou apoio médico. Fez tratamento com hormônio, começou a praticar exercícios e quinze dias depois sentiu segurança para tentar novamente:
- Clara, amanhã te busco no meu carro tá bem?
- Ok, respondeu Clara já sentindo o corpo responder positivamente ao imaginar o que estaria por vir.
No dia seguinte Gonçalves repetiu a fraqueza. Na ocasião foi ainda pior pois a adrenalina do medo de falhar fez sua pressão subir, as mãos suavam. Ele tentava fingir que estava tudo bem, deitou Clara nua para fazer-lhes carícias, ela esperava com toda certeza de que não havia mais problema algum mas depois de quase uma hora ele deita ao lado dela com os olhos fechados e respiração ofegante.
- Não dá, não consigo.
Clara respira fundo, excitada como estava não queria perder mais uma viagem. Deita por cima dele, tenta de toda forma estimular uma reação daquele homem na qual estava apaixonada, mas sem sucesso. Na volta para casa, somente se escuta o barulho do motor. De tão decepcionados com a situação sequer lembraram de escutar um pouco de música até por que seria inútil já que cada um estava mergulhado em seus próprios pensamentos.
Alguns dias se passam sem que haja contato de um nem de outro. Gonçalves que não tinha hábitos arruaceiros resolve sair com amigos em busca de outras garotas. Quer ter certeza que está tudo bem com ele pois os médicos garantiam que não havia problema algum e que era tudo questão psicológica. E de fato, em um mês Gonçalves conhece várias outras garotas, umas de meia idade, outras novinhas interesseiras e com todas elas consegue, nos limites da sua resistência física, proporcionar-lhes noites perfeitas. Passados exatos trinta dias Gonçalves aparece de surpresa no trabalho de Clara
- Hoje você prefere carne ou peixe?
- Hoje eu quero você!
Clara toma a chave do carro de Gonçalves e vai dirigindo direto para um motel. Não quer saber de perder tempo. Entram no quarto e mal dá tempo de tirarem as roupas. As saídas deixaram Gonçalves mais seguro de si e isso já era visível, Clara estava pronta para aquela noite tão aguardada e ele também sonhava com aquilo dia e noite. Carícias, preliminares, tudo ocorreu perfeitamente, o fogo daquelas 40 primaveras eram intensos. Então ela joga Gonçalves em cima da cama e pula em cima dele, mas algo estava errado. Como uma queda de energia, Gonçalves perde a força masculina e novamente não consegue fazer amor com ela.
Clara levanta-se muda, vai ao banheiro. Volta vestida, ligara para uma empresa de táxi que enviou um carro em poucos minutos à porta da suíte. Gonçalves respira fundo e vai pra casa, dá um beijo na testa da esposa e senta ao sofá para ver o telejornal.

Vinho tinto.

Resolveu verificar a agenda do aparelho celular. Naquele domingo a tarde lá do alto do décimo andar daquele bairro nobre e pacato as doses de whisky já não eram companhia suficiente. Aos 25 anos, Araújo era uma exceção quando comparada à grande maioria na sua idade. Morava sozinho em um bom apartamento numa ótima localização e levava a vida sem grades percalços. Trabalhava, ganhava bem e curtia a vida a todo momento sem nenhuma preocupação em casamento ou constituição de família. Antes que achasse um número a quem ligar, o telefone toca:
- Araújo? Tudo bem?
- Oi menina, tava pensando em você agora mesmo!
- Quando é que a gente vai tomar aquele vinho que você prometeu?
- Pois é menina, tu estás adivinhando. Ele já está gelado aqui e eu ia te ligar justamente pra isso. Vou buscá-la?
- Não, eu chego aí daqui a pouco. É melhor. Depois eu te digo o porquê.

Araújo apressou-se em ir ao hipermercado e comprar um vinho tinto suave e depois ficou na torcida para ele gelar logo. Não havia programado nada daquilo, no máximo tinha dado uma cantada sem pretensões num dia perdido durante uma conversa pela internet, nem acreditou quando percebeu que a conversa havia colado.

Taciana era uma menina aventureira com dezenove primaveras apenas. Gostava de noitadas, conhecer pessoas novas, fazer todo tipo de loucura. Conheceu Araújo pela internet e menos de quinze dias depois estava indo ao encontro de um bom vinho gelado.

- Sr Araújo, a Sra Taciana está aqui.
- Pode mandar subir.

Finalmente aquela morena de belas curvas estava ali, na sua frente. Desligou os telefones e não foi de muita cerimônia. Já recebeu a pequena com a taça de vinho em mãos e antes do primeiro gole já estavam aos beijos. O primeiro gole foi preciso, Taciana virou aquela taça de vinho como um sertanejo em pleno verão seco ao deparar-se com um copo de água gelada. Na verdade foi somente para garantir que não haveria acidentes nem sujeiras, colocou a taça no chão e deitou-se por cima do Araújo com mais sede ainda jogando-o sobre o sofá. O interfone tocou.

- Sr Araújo? Há um rapaz aqui que disse que quer falar com a senhorita que subiu ao seu apartamento, disse que era o namorado dela.
- Namorado? Não cara, diz a ele que é engano, tem ninguém com namorado que subiu aqui não.

O susto quebrou o clima naquele momento. Por uma fresta da janela da cozinha dava para ver o rapaz que estava lá, nervoso, andando de um lado para o outro. Havia seguido a namorada, pois dias atrás leu nos arquivos do computador várias conversas que o deixaram de cabelo em pé. Ciumento, porém sem saber como pressionar a pequena, foi no encalço até o prédio onde ela subiu. Era exatamente o prédio cujo endereço foi citado em uma das conversas picantes da garota pela internet nas quais ele teve o acesso invasivo. Fez plantão lá embaixo.

- Taciana, e agora?
- Deixa ele pra lá, uma hora ele cansa.

A segurança de Taciana com aquela situação estimulou o prazer pelo perigo e continuaram aos amassos no sofá e bebendo todo vinho que tinham vontade. Foram ao quarto, ela era de um fogo anormal, gritava de prazer de uma forma que parecia querer que, dez andares abaixo, o namorado pudesse escutar. O interfone toca novamente:

- Sr Araújo, a Sra Carmem está aqui e quer falar com o senhor.
- Carmem? Bota ela aí.

O namorado de Taciana havia ido buscar Carmem para que ela tivesse a missão de subir ao apartamento do Araújo em busca de conferir se era sua pequena de fato que estava por lá. Mas o tiro acabou saindo pela culatra pois Carmem subiu e resolveu curtir o vinho e a companhia lá dos dois. Curtiu tanto que, num momento que de tanto beber Taciana cai adormecida, ela resolve curtir Araújo que já comemorava aquela tarde tão improvável que estava acontecendo. Pela fresta da cozinha conferiu e o rapaz continuava lá sentado sobre a calçada aguardando o retorno da investigadora.

No começo da noite desce Carmem levemente alta e vê o olhar aflito o curioso o rapaz sentado ao chão. Araújo havia pedido um táxi para ela e este a aguardava na frente do prédio. Ela sai da portaria, o rapaz levanta-se, ela simplesmente olha pra ele, dá uma gargalhada e entra no táxi. O rapaz volta a sentar-se na calçada e de tanto esperar adormece. Horas depois desiste e vai à casa de Taciana que já está adormecida com uma expressão de felicidade. Araújo havia percebido que ele adormecera na calçada e rapidamente colocou a garota em seu carro e levou-a para casa em segurança. Ainda viu o rapaz lá deitado quando voltou. Mais tarde toca o telefone e uma voz de choro fala:

- Alo, eu quero falar com Ara... A.... é Araujo!
- Com quem? Sabe que horas são? Isso é hora de passar trote para casa dos outros? Você não tem vergonha não?
- Me desculpe senhor.... é que eu pensei...
- Pensou o que? Em incomodar?
- Não, não, desculpe, desculpe, foi engano.

Araújo desliga dá uma gargalhada enquanto combina pela internet para tomar um vinho com Carmem.


sábado, 4 de setembro de 2010

A ex namorada.

Era linda. Silvia no auto dos seus um metro e setenta e nove de altura era uma dessas mulheres de virar a cabeça. Os loiros cabelos, as pernas grossas e condizentes com toda a estrutura corporal era de ativar a testosterona de qualquer um. Tinha uma filha pequena e estava recém-separada. Seu ex marido, rapaz alto e também muito bonito, entregou-se ao álcool e acabou destruindo a vida em família. Depois de muito sofrimento Silvia resolve separar-se.
Um mês após a separação ela pensou:
- Será que eu devo ligar.....?
O fato é que Silvia nunca esquecera do Eduardo, um ex namorado que teve aos 24 anos. Naquela época estava ainda virgem e era criada como uma boneca. A mãe muito ciumenta fazia questão de comprar ainda ursinhos de pelúcia para aquela mulher que até na voz parecia ainda uma criança. E Silvia gostava, sentia-se protegida, na verdade, por aquela senhora que ao mesmo tempo que a amava a torturava com regras duras e rudes. Silvia não conseguia namorar e acabava por não sentir falta de tal. O amor envolvente da mãe obcecada por aquela menina não dava espaço para que ela respirasse. A qualquer momento que Silvia vacilasse a mãe repetia:
- Quem come do meu pão prova do meu cinturão.
Eduardo tinha somente 19 anos. De uma família de classe média tinha no pai um exemplo de rebeldia. O pai andara na ditadura enfrentando polícia, andou com partido comunista e criou os filhos sempre mostrando que poderiam lutar por tudo que fosse correto e lícito e que não deveriam nunca aceitar injustiças. Eduardo conhece aquela mulher linda na universidade de Administração, ela alguns períodos na sua frente, fica embasbacado com tamanha beleza. Ao ver que uma amiga a conhece, faz a pergunta:
- E aquela loira ali? Apresenta?
- É virgem e tem namorado, tira o cavalo da chuva.
É virgem...... Eduardo nem escutou a frase ''tem namorado'', ficou somente pensando - Como pode? Linda, universitária e virgem? Mas o fato é que ela não tinha namorado, foi só uma brincadeira da amiga, mas quanto a virgindade era batata.
Conheceram-se e começou um namoro que durou apenas 3 meses. Tempo suficiente para aquele rapaz habilidoso resolver o ''problema'' da virgindade. Mas ela adorou aquela libertação, a partir daquele namoro tornou-se uma mulher mais forte, mais contestadora. O convívio com Eduardo fez com que ela enfrentasse a mãe, caísse no mundo rumo ao trabalho, mas o término do namoro havia sido traumático. Por conta de uma ex namorada, Eduardo desiste de Silvia e retoma o antigo relacionamento.
Após anos, os dois se reencontram, lavam a roupa suja do passado, tornam-se amigos. Amigos de cama. Silvia com uma esperança de reconquistar seu amado queria fazer de tudo, mas Eduardo era muito descolado, os anos passados o fizeram ter muitas experiências, voltar no tempo não seria algo a ser cogitado. Depois de tentar muito tempo Silvia namora outros rapazes, some, reaparece, some de novo, torna a aparecer, até que casa-se e sumiria por mais de um ano.
- Vou ligar. Alo?
- Sim?
- Eduardo?
- Sim!
- Nem adivinha quem é?
Aquela voz de criança era inconfundível. Silvia já com 30 anos mantinha a voz talvez dos 10 anos de idade. Eduardo titubeou.
- Bem... não sei, eu acho...
- É Silvia
- Silvia? Não acredito, tudo bem com você? Como vai a filha, o casamento?
A pergunta era estratégica, sempre que Silvia se afastava para namorar outro rapaz e mesmo durante o casamento ela NUNCA fora infiel. Quando encontrava com Eduardo, mesmo cheia de vontade ela segurava a onda mas não feria seus princípios. Se estava comprometida estava e pronto, não importa mais nada, vivia para a pessoa sendo feliz ou infeliz. Ela então responde:
- Eduardo, eu preciso falar com você. Urgente. Pode me encontrar hoje?
Eduardo parou um instante. Sabia que ela tivera uma filha. Fez as contas, ficou com medo dela dizer que a filha era dele, mas depois viu que era impossivel. Do tempo que não se viam até o nascimento da pequena, não daria tempo. Mas ficou curioso:
- Posso, à noite?
- Sim, combinado.
O que Silvia queria não era nada demais. Eduardo era o ex namorado, o amigo, o confidente, enfim, era a pessoa na qual ela mais depositava confiança. Queria só ele por perto de novo. Queria o amigo de cama, e que cama, ela adorava essa parte, por mais que tenha conhecido outros rapazes era o Eduardo que a fazia mais realizada.
- Faço o que quiseres, não te preocupes com cobranças. Pode namorar quem quiser, pode casar se quiser, não me importo, só quero que continues meu amigo.
No fundo Silvia, mesmo recém separada, alimentava ainda a esperança de ter o ex de volta. Via ele brincar com sua filha com tanto carinho que sonhava: - Não podia ter sido ele o pai da minha filha?

Certo dia o convocou:
- Eduardo, não vou perder tempo com enroladas, quero que venha aqui fazer amor comigo!
Pasmo com o convite tão direto, Eduardo não pode negar. Foi até lá e tal qual uma pizza pedida por telefone já foi atacado ao entrar no apartamento. Ao final ela suspirava
- Fazer amor contigo é muito bom. Tens alguma fantasia? Fala, eu realizo.
Ele pensou, arriscou:
- Tenho uma, gostaria de ir para a cama com duas mulheres. Mas não somente isso, o que eu queria era que estas duas mulheres estivessem transando.
Silvia ficou gelada. Pensou um pouco:
- Outra mulher? Mas eu nunca toquei nem fui tocada por uma mulher!
- Eu sei, não lhe parece uma experiência interessante?
Silvia já se arrependera de ter feito a proposta, mas não queria mostrar fraqueza. Eduardo duvidava que ela toparia, mas ela fez apenas uma exigência:
- Edu, eu topo, mas sem beijos. E outra coisa, ela pode tocar em mim, mas eu não quero tocar nela.
Surpreso, Eduardo se encheu de empolgação. Nunca imaginava que isso aconteceria assim tão fácil. Passou a mão no telefone no dia seguinte e ligou para uma amiga que saia com ele de vez em quando e que gostava de mulher. Marcaram o dia e tudo aconteceu. Auxiliada por algumas garrafas de vinho Silvia estava irreconhecível, a explosão dela impressionaria até ao mestre Nelson Rodrigues. Fez amor com aquela mulher e com o Eduardo com um prazer estampado no rosto, um sorriso freqüente. Esqueceu-se das regras que impusera e curtiu o momento como ela nunca imaginaria na vida.
Na semana seguinte Eduardo telefone para Silvia que pergunta:
- Oi Edu, tudo bem contigo?
- Tudo sim, quando a gente se vê?
- Não sei, Edu.
- Como não? O que houve?
- Edu, aquela tua amiga.... tá comigo agora. Obrigada por apresentá-la. Voce sabe, quando estou namorando....