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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Consultoria.

Seis e meia da manhã. Após o café, um beijo na testa da esposa e uma breve conferida nas páginas de esportes, economia e alguns outros destaques da capa. No alto dos seus sessenta anos, Gonçalves nunca lia as páginas policiais “Inúteis, notícias que não servem pra nada”, ralhava. Sua mulher, uma jovem senhora de sessenta e um anos era de uma calma tibetana e retirava a mesa olhando o relógio de parede, sempre atenta ao horário para que o marido não perdesse o dia de trabalho. As sete Marilene avisa:
- Meu bem, são sete em ponto. Acho melhor ir logo, pois com esta chuva o transito pode ficar ruim.
- Tudo bem, já vou indo, falava calmamente enquanto tirava os chinelos e calçava os sapatos pretos impecáveis.
Gonçalves era um respeitado consultor em administração. Trabalhava numa não menos respeitada consultoria da capital pernambucana e tinha no currículo o salvamento de várias empresas que estavam em profundas crises antes de contratar o trabalho da mais alta qualidade do Sr Gonçalves.
Ao chegar no trabalho, a novidade:
- Gonçalves, lembra da queda nas ações daquela empresa de transporte? Batata, é crise! Já ligaram pra cá faz 5 minutos, vão retornar daqui a pouco. Pelo tamanho da bomba é melhor que seja você pra encarar.
- Deixa comigo, eu já vinha tendo acesso às atas e já até sei mais ou menos por onde começar.
Era um profissional muito proativo. Quando começou a ter informações da queda da empresa de transportes já previu que poderiam precisar de consultoria. Já foi estudando as causas e as possíveis saídas e antes que a bomba estourasse já tinha pensado por onde começar a consertar os problemas que geraram a crise.
O fato é que aquela empresa de transportes estava com seu gráfico em queda livre e precisava de medidas urgentes para não entrarem no fundo do poço, pois já estavam na metade dele. Conversaram com o experiente Gonçalves e fizeram uma ressalva:
- Estamos chamando duas empresas de consultoria, espero que não se importe. Gostaria de ter pontos de vista diferentes e que vocês conversassem para chegarmos ao ponto mais seguro de decisões a serem tomadas.
Gonçalves não fez protestos. Confiava em seu trabalho, mas aceitou sem problemas a participação de outra empresa na resolução do problema. Na primeira reunião marcada conheceu a representante da outra empresa. Ficou embasbacado. No alto de um salto de sei lá quantos centímetros estava uma morena de matar. Ao quarenta anos, Clara contrastava seu nome com o bronzeado da pele perfeita, os cachos caiam pelas costas numa sincronia sinfônica. Nunca fora casada, o mais perto que chegou disso foi um noivado de dez anos que se dissipou rumo ao rabo de saia alguns anos mais nova. Depois disso resolveu entregar-se ao trabalho e cuidar de si própria e fazia isso com perfeição. Era uma profissional que chamava a atenção por sua altivez, segurança e beleza. Aquela “menina”, na visão do Sr Gonçalves, tinha 20 anos a menos de experiência e 100 anos a mais de impetuosidade. Por ser mulher em um meio tomado pelos profissionais do sexo masculino, teve que crescer na profissão mostrando força e determinação. A empresa acertara na mosca, Sr Gonçalves e a Sra. Clara fizeram um belo trabalho e atingiram os objetivos. Porém por força do trabalho que não foi nem um pouco fácil, precisavam se encontrar várias vezes por semana e se telefonar outras várias por dia, o que criou nos dois inicialmente uma amizade intensa e depois um envolvimento inevitável.
- Clara, jantamos juntos amanhã?
- Hummmm, depende.
- De que?
- Só se você me prometer que jantaremos juntos também depois de amanhã.
Após alguns jantares o romance começou a acontecer e o fogo intenso daquela loba não fez questão de cerimônias. Ela que já pensara tudo antecipadamente fez questão que o encontro fosse no carro dela, ora, quem dirige é que manda no destino. Então sem perguntar nada, sem nenhum pudor desnecessário dirigiu-se a um motel enquanto Gonçalves apenas observava com os olhos arregalados. Dizia “Não é melhor irmos com calma?” e ela sorriu respondendo “Meu bem, essa pergunta quem deveria fazer aqui era eu, a mulher aqui sou eu”.
Com a frieza pacata do casamento e a pressão do trabalho, Gonçalves estava sexualmente adormecido fazia tempo. Aquela situação acabou deixando-lhe tenso e nada demais aconteceu naquelas horas dentro da suíte. Clara compreendeu e não fez cobranças nem comentário. Agiu como se tivesse ido àquele motel apenas para conversar e curtir de forma leve. Ao chegar em casa ralhou sozinha “Que droga, o que há de errado comigo?”. Olhava-se no espelho, checava o próprio cheiro mas não via problemas. Pensou “Mulher bonita assusta” e deu um sorriso antes de dormir.
Gonçalves chegou em casa um pouco frustrado e no outro dia procurou apoio médico. Fez tratamento com hormônio, começou a praticar exercícios e quinze dias depois sentiu segurança para tentar novamente:
- Clara, amanhã te busco no meu carro tá bem?
- Ok, respondeu Clara já sentindo o corpo responder positivamente ao imaginar o que estaria por vir.
No dia seguinte Gonçalves repetiu a fraqueza. Na ocasião foi ainda pior pois a adrenalina do medo de falhar fez sua pressão subir, as mãos suavam. Ele tentava fingir que estava tudo bem, deitou Clara nua para fazer-lhes carícias, ela esperava com toda certeza de que não havia mais problema algum mas depois de quase uma hora ele deita ao lado dela com os olhos fechados e respiração ofegante.
- Não dá, não consigo.
Clara respira fundo, excitada como estava não queria perder mais uma viagem. Deita por cima dele, tenta de toda forma estimular uma reação daquele homem na qual estava apaixonada, mas sem sucesso. Na volta para casa, somente se escuta o barulho do motor. De tão decepcionados com a situação sequer lembraram de escutar um pouco de música até por que seria inútil já que cada um estava mergulhado em seus próprios pensamentos.
Alguns dias se passam sem que haja contato de um nem de outro. Gonçalves que não tinha hábitos arruaceiros resolve sair com amigos em busca de outras garotas. Quer ter certeza que está tudo bem com ele pois os médicos garantiam que não havia problema algum e que era tudo questão psicológica. E de fato, em um mês Gonçalves conhece várias outras garotas, umas de meia idade, outras novinhas interesseiras e com todas elas consegue, nos limites da sua resistência física, proporcionar-lhes noites perfeitas. Passados exatos trinta dias Gonçalves aparece de surpresa no trabalho de Clara
- Hoje você prefere carne ou peixe?
- Hoje eu quero você!
Clara toma a chave do carro de Gonçalves e vai dirigindo direto para um motel. Não quer saber de perder tempo. Entram no quarto e mal dá tempo de tirarem as roupas. As saídas deixaram Gonçalves mais seguro de si e isso já era visível, Clara estava pronta para aquela noite tão aguardada e ele também sonhava com aquilo dia e noite. Carícias, preliminares, tudo ocorreu perfeitamente, o fogo daquelas 40 primaveras eram intensos. Então ela joga Gonçalves em cima da cama e pula em cima dele, mas algo estava errado. Como uma queda de energia, Gonçalves perde a força masculina e novamente não consegue fazer amor com ela.
Clara levanta-se muda, vai ao banheiro. Volta vestida, ligara para uma empresa de táxi que enviou um carro em poucos minutos à porta da suíte. Gonçalves respira fundo e vai pra casa, dá um beijo na testa da esposa e senta ao sofá para ver o telejornal.

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