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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Vinho tinto.

Resolveu verificar a agenda do aparelho celular. Naquele domingo a tarde lá do alto do décimo andar daquele bairro nobre e pacato as doses de whisky já não eram companhia suficiente. Aos 25 anos, Araújo era uma exceção quando comparada à grande maioria na sua idade. Morava sozinho em um bom apartamento numa ótima localização e levava a vida sem grades percalços. Trabalhava, ganhava bem e curtia a vida a todo momento sem nenhuma preocupação em casamento ou constituição de família. Antes que achasse um número a quem ligar, o telefone toca:
- Araújo? Tudo bem?
- Oi menina, tava pensando em você agora mesmo!
- Quando é que a gente vai tomar aquele vinho que você prometeu?
- Pois é menina, tu estás adivinhando. Ele já está gelado aqui e eu ia te ligar justamente pra isso. Vou buscá-la?
- Não, eu chego aí daqui a pouco. É melhor. Depois eu te digo o porquê.

Araújo apressou-se em ir ao hipermercado e comprar um vinho tinto suave e depois ficou na torcida para ele gelar logo. Não havia programado nada daquilo, no máximo tinha dado uma cantada sem pretensões num dia perdido durante uma conversa pela internet, nem acreditou quando percebeu que a conversa havia colado.

Taciana era uma menina aventureira com dezenove primaveras apenas. Gostava de noitadas, conhecer pessoas novas, fazer todo tipo de loucura. Conheceu Araújo pela internet e menos de quinze dias depois estava indo ao encontro de um bom vinho gelado.

- Sr Araújo, a Sra Taciana está aqui.
- Pode mandar subir.

Finalmente aquela morena de belas curvas estava ali, na sua frente. Desligou os telefones e não foi de muita cerimônia. Já recebeu a pequena com a taça de vinho em mãos e antes do primeiro gole já estavam aos beijos. O primeiro gole foi preciso, Taciana virou aquela taça de vinho como um sertanejo em pleno verão seco ao deparar-se com um copo de água gelada. Na verdade foi somente para garantir que não haveria acidentes nem sujeiras, colocou a taça no chão e deitou-se por cima do Araújo com mais sede ainda jogando-o sobre o sofá. O interfone tocou.

- Sr Araújo? Há um rapaz aqui que disse que quer falar com a senhorita que subiu ao seu apartamento, disse que era o namorado dela.
- Namorado? Não cara, diz a ele que é engano, tem ninguém com namorado que subiu aqui não.

O susto quebrou o clima naquele momento. Por uma fresta da janela da cozinha dava para ver o rapaz que estava lá, nervoso, andando de um lado para o outro. Havia seguido a namorada, pois dias atrás leu nos arquivos do computador várias conversas que o deixaram de cabelo em pé. Ciumento, porém sem saber como pressionar a pequena, foi no encalço até o prédio onde ela subiu. Era exatamente o prédio cujo endereço foi citado em uma das conversas picantes da garota pela internet nas quais ele teve o acesso invasivo. Fez plantão lá embaixo.

- Taciana, e agora?
- Deixa ele pra lá, uma hora ele cansa.

A segurança de Taciana com aquela situação estimulou o prazer pelo perigo e continuaram aos amassos no sofá e bebendo todo vinho que tinham vontade. Foram ao quarto, ela era de um fogo anormal, gritava de prazer de uma forma que parecia querer que, dez andares abaixo, o namorado pudesse escutar. O interfone toca novamente:

- Sr Araújo, a Sra Carmem está aqui e quer falar com o senhor.
- Carmem? Bota ela aí.

O namorado de Taciana havia ido buscar Carmem para que ela tivesse a missão de subir ao apartamento do Araújo em busca de conferir se era sua pequena de fato que estava por lá. Mas o tiro acabou saindo pela culatra pois Carmem subiu e resolveu curtir o vinho e a companhia lá dos dois. Curtiu tanto que, num momento que de tanto beber Taciana cai adormecida, ela resolve curtir Araújo que já comemorava aquela tarde tão improvável que estava acontecendo. Pela fresta da cozinha conferiu e o rapaz continuava lá sentado sobre a calçada aguardando o retorno da investigadora.

No começo da noite desce Carmem levemente alta e vê o olhar aflito o curioso o rapaz sentado ao chão. Araújo havia pedido um táxi para ela e este a aguardava na frente do prédio. Ela sai da portaria, o rapaz levanta-se, ela simplesmente olha pra ele, dá uma gargalhada e entra no táxi. O rapaz volta a sentar-se na calçada e de tanto esperar adormece. Horas depois desiste e vai à casa de Taciana que já está adormecida com uma expressão de felicidade. Araújo havia percebido que ele adormecera na calçada e rapidamente colocou a garota em seu carro e levou-a para casa em segurança. Ainda viu o rapaz lá deitado quando voltou. Mais tarde toca o telefone e uma voz de choro fala:

- Alo, eu quero falar com Ara... A.... é Araujo!
- Com quem? Sabe que horas são? Isso é hora de passar trote para casa dos outros? Você não tem vergonha não?
- Me desculpe senhor.... é que eu pensei...
- Pensou o que? Em incomodar?
- Não, não, desculpe, desculpe, foi engano.

Araújo desliga dá uma gargalhada enquanto combina pela internet para tomar um vinho com Carmem.


Um comentário:

Quem disser que escreve APENAS por hobbie e não faz questão que ninguém comente É UM GRANDE MENTIROSO!!