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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A menina do interior.

Estava beirando os trinta anos. Filha mais velha de uma família do interior de Pernambuco, Débora via-se pressionada a casar-se logo por conta dos casamentos da irmã do meio e do irmão mais novo. A irmã do meio inclusive já tinha tido filhos, gêmeos, eram os xodós da família inclusive da titia coruja.
Um grande problema é que aquela menina franzina que aparentava ter 15 anos tinha sua sorte para namorados antagônica à sua beleza. Linda, atraía todo tipo de homem seja mais novos, mais velhos, casados, noivos, em alguns momentos se apegou a alguns deles, mesmo alguns noivos e outros com namorada, nunca algum casado, pelo menos não que ela soubesse. Outro problema era o fato de ser virgem, carregava a pressão da família por casar-se virgem e não ser motivos de falatório na cidade da família.
Era uma injustiça o que acontecia com Débora, a irmã casara grávida e jurava que era virgem a todo mundo. Mas como casou-se com alguém da própria cidadezinha, aquilo entrou pela perna do pinto e saiu pela perna do pato e ficou por isso mesmo. Até por que o casamento aconteceu antes da barriga crescer então quando os falatórios iniciariam o casamento já estava consumado, então as fofoqueiras da cidade não tomaram tanto gosto pelo assunto.
A pressão ficou com ela e era renovada a cada visita no interior:
- Essa é o orgulho da família. Cinco anos estudando no Recife e não me dá desgosto, vai se formar e se Deus quiser casa logo em seguida, e virgem! Dizia com orgulho quase que aplaudindo a filha a exigente dona Inaura.
Já a irmã dizia olhando de lado e com um sorrisinho sarcástico, malicioso:
- Morando cinto anos no Recife e virgem... sei... cuidado não Débora, mentira tem pernas curtas. Eu antes de engravidar também era virgem.
Os comentariozinhos da irmã eram tão constantes quanto irritantes sempre que visitava a casa dos pais. Não se davam mal, mas o fato da santificação de Débora fazia com que a reação da irmã fosse sempre arisca quanto a este assunto.
Certo dia Débora conhece Tony, moreno de olhos azuis intensos e rosto de menino. Um rosto tão angelical que fazia todas acreditarem que é apenas um menino alto necessitando proteção, apesar dos trinta anos de idade. Débora apaixonou-se pelo rapaz e foi correspondida. Não na mesma intensidade, mas se comparados aos outros relacionamentos, Débora fora uma premiada.
Tony estava acostumado a ter belas pequenas próximas a ele e era agradável com todas. Era tão atencioso que várias delas se julgavam as únicas ou as definitivas. Havia quem tivesse certeza de ser a alma gêmea e algumas mais exageradas afirmavam que era um relacionamento que vinha de outra vida. O problema era que, mesmo sendo alguém muito simpático, carinhoso e atencioso, Tony tinha pavor de casamento. Dizia “Casar é bom, mas morrer queimado é melhor ainda”. Certo dia o pai cobrou com ar de preocupação:
- Filho, estás bem empregado, estás com trinta anos, necessitas casar-se. Eu estou velho e queria muito um neto para alegrar a vida minha e de tua mãe.
O pai de Tony foi um jovem arruaceiro. Mesmo casado, vivia entre as farras e o trabalho. Nada faltava em casa, sempre manteve uma vida de várias regalias para a família, mas faltou com a presença durante toda a infância dos filhos. Agora já beirando os sessenta anos e com problemas no coração, via com ar de inveja os amigos exibindo os netos bebezinhos e se fascinava. Dizia “Esta casa está precisando de uma criança”.
Um dia após o café da manhã, aproveitando um momento que Tony retirou-se da sala de jantar, Seu Mauro faz a cobrança numa súplica de dar pena:
- Débora, escuta bem. Eu quero um neto.
- Mas seu Mauro, Tony nem quer casar.
- Quero que saiba de uma coisa, eu te apoio no que fizeres. Te apoio no que quiseres. Só quero um neto.
Aquele pedido martelou sua cabeça pelos dias seguintes. De um lado a mãe cobrando a virgindade, do outro lado o sogro cobrando um neto. A cobrança do sogro era melhor aceita pelo coração da pequena. Ela também queria um filho, ela não se importava com a virgindade, mas morria de medo de comentários típicos de interior “Tá vendo? Foi estudar em Recife e voltou com barriga” ou mesmo “Olha aí no carrinho o diploma de faculdade que ela foi buscar”. Era um dilema e ela pressionava Tony:
- Tu sabes que teu pai quer um neto. Por que não casamos?
- Calma meu amor, não tenhamos pressa. Tantos casais eu conheço que se apressaram assim e não foi bom.
- Não tem que se comparar com ninguém, Tony, isso é uma desculpa esfarrapada!
- Nada disso. Acho bom ficar calma aí. Vamos esperar pra ver se realmente é a coisa certa, isso virá com o tempo.
Débora sabia que o fato de ser virgem era indiferente para o namorado, aliás, era um ponto fraco no relacionamento pois certamente ele não casaria com alguém antes de ter uma vida sexual ativa. Ela também não se importava em ser ou não virgem mas o medo de engravidar por conta da reação da mãe era algo assustador até ali. Porém o desejo do sogro em ter um neto fez esse medo entrar em confronto com uma vontade até então desconhecida de ser mãe. Então naquela mesma noite:
- Tony, estou decidida. Esta noite quero ser sua.
- Tem certeza meu amor? Não quero forçar você a nada, falou Tony torcendo para que ela não voltasse atrás com a decisão tomada.
- Tenho sim.
- Tudo bem, deixa eu pegar preservativo, sei do teu pânico de engravidar e não quero causar tristezas.
- Obrigado meu amor, eu sabia que seria cuidadoso comigo, vem, estou decidida, sou tua.
Foi uma noite incrível. Os dois só adormeceram quando o sol já brilhava alto. Durante todo o dia ficaram no quarto, a gaveta de roupas onde ficavam vários preservativos que o pai dava para Tony quase se esvaziara deste artigo. Pausas apenas para comer, tomar água ou ir ao banheiro. De resto foram duas noites e um dia inteiro dentro do quarto tal qual um casal em lua de mel em pleno namoro.
Um mês depois o improvável acontecia. Débora estava grávida. O exame que foi feito na certeza do resultado negativo surpreendentemente deu positivo. 
- Mas como? Impossível, esse filho não é meu! Sempre usamos camisinha, grita Tony trancado ao quarto junto com Débora.
- Mas meu amor, eu não sei, dizia ela chorando, eu nunca fui de outro somente com você.
- Débora, não tem como, como foi isso?
De repente alguem bate à porta:
- Tony! Chama o pai que escutava a conversa por trás da porta.
- Sim pai.
- Me diga uma coisa meu filho, vocês usaram apenas os preservativos que eu te dei?
- Sim.
O velho abraça-se ao filho chorando e dizendo.
- É meu neto, é meu neto.

Um comentário:

  1. Que velho safado ein...rsrsrs
    Gostei do conto...adoro ler..so nao tenho tanto tempo pra isso...mas contos assim..sao ótimos.
    Vc está de parabéns...continue assim.
    Bjus , bjus e muitos bjus!!
    Uma velha amiga sua!!

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