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terça-feira, 24 de maio de 2011

O Rush das Dez


Conhecida no mundo inteiro seja no começo do dia ou no finzinho da tarde para início da noite, a Hora do Rush (ou hora do pico, hora do pique ou mesmo rush hour), são momentos de grandes congestionamentos que ocorrem geralmente em grandes cidades cuja população está em traslado de casa ao trabalho (ou outras atividades) e vice-versa. No Brasil este horário costuma ser entre 6 e 8 da manhã e entre 5 e 7 da noite. Na região metropolitana do Recife este horário varia de acordo com o clima.
Imagine um dia de sol e maré baixa, coisa que acontece em Recife entre setembro e abril (excetuando-se as chuvas de verão), e temos um quadro de forte calor, racionamento de água, contudo um transito mais tranqüilo. Os horários de rush são bem pré-definidos e sabemos perfeitamente em quais ruas podemos trafegar entre 6 e 8 da manhã e entre 17 e 19 horas. Contudo quando vem chegando as águas de março (que este ano chegaram em meados de abril) com as nuvens escuras e as luzes brilhando e rasgando o ar, aí o quadro muda. E muda muito. É só saber que um dos dias em que a chuva combinou com a maré pela manhã, ninguém conseguiu sair de casa. Um percurso que eu levo de casa ao trabalho de aproximadamente 45 minutos em dias normais chegou ao incrível recorde de 3 horas. Algumas ruas viraram verdadeiros rios, os engarrafamentos nas BR´s eram de se perder de vista e as rádios de notícias eram claras ao informar ao povo: “não saiam de casa”.
         O Twitter hoje é uma necessidade do povo metropolitano do Recife, ler o @transitorec_ é quase tão necessário quanto ler jornal, escutar a cbn e a rádio jornal quando se quer estar bem informado, ou mesmo tão importante quanto abastecer o carro em um posto confiável quando se quer ter a certeza de fazer um translado com tranqüilidade, sem maiores riscos. As informações postadas neste Twitter, bem como o do JC TRANSITO, são cruciais para quem quer ter a se
gurança de estar bem informado o tempo inteiro e não ficar preso, alagado ou dentro de um buraco.
A utilização das redes sociais para informação sobre transito só falhou (e parou a cidade) em um dia que se espalhou que a barragem de Tapacurá havia rompido. Universidades fecharam, Shoppings fecharam, escolas fecharam, muita gente ficou em pânico com medo de um boato que vez por outra alguém faz rodar no Recife daquele 05 de maio de 2011. Até o governador precisou ir à rádio para acalmar a população e explicar que foi a barragem de Carpina que teve que abrir um pouco e gradualmente suas comportas por conta da quantidade de água acumulada. Nada de Tapacurá ter rompido nem aberto comporta, já que nem comporta ela tem, ela na verdade possui um tipo de exaustor de água que jorra levemente como uma pequena cachoeira apenas quando é muito necessário.
Ficou na história do Recife em julho de 1975, após uma enchente que matou mais de 100 pessoas e deixou cerca de 80% do Recife sob as águas, o primeiro boato sobre a barragem construída dois anos antes. O desespero das pessoas era tamanho que as pessoas chegavam a fugir dos hospitais ainda com a roupa de paciente em atendimento, outras procuravam seus parentes para morrerem juntos, algumas pessoas corriam desesperadas no meio das ruas e procuravam carona para saírem de onde estavam para procurar um lugar mais seguro. Prédios altos eram invadidos e as pessoas corriam subindo para o andar mais alto que pudessem, carros andavam na contramão e os motoristas gritavam “Tapacurá estourou!”. A situação somente se normalizou quando o então governador José Francisco de Moura Cavalcanti tomou conhecimento de que Tapacurá estava normal e procurou o Diretório Central dos Estudantes e a imprensa. Aos poucos a situação voltou ao normal.
        Hoje o trânsito no Recife mais parece um nó. Os jornais falam do problema todos os dias, a Companhia de Transito e Transporte Urbano é o órgão mais criticado pela população, as reclamações são sempre as mesmas, mas ninguém resolve. Pelo contrário, Pioram! Uma das principais avenidas do centro do Recife, a Conde da Boa Vista, teve um projeto recente de reforma que conseguiu piorar o que já parecia um caos. Uma via sem drenagem, estreita, onde apenas um carro passa por vez (se alguém parar a fila inteira para, aliás, é proibido parar ao longo de toda via), os ônibus não têm espaço para trafegar em horário de rush, enfim, uma via que ficou péssima de andar em horários normais e impossível de trafegar em horário de Rush.
Quem achar que o que eu escrevi é a constatação de uma situação ruim, pasme, pois piorou. Recife tem um novo horário de Rush: é o Rush das Dez. Pelo menos em dia de chuva. Há no centro do Recife uma concentração de faculdades, algumas no bairro do Derby e outras no bairro da Boa Vista, além de vários cursos preparatórios para concursos, todos com horários de encerramento por perto das dez horas da noite. Neste horário o trânsito passa por aproximadamente 15 minutos de alto fluxo ali naquele entorno e depois fica livre novamente, mas nada comparado ao trânsito matutino complicado nem ao quase caótico do fim da tarde. Isso se não chover. Neste dia 23 de maio de 2011 eu vi o Rush das Dez parar o Recife. Entre nove e meia da noite e onze horas da noite, todo aquele entorno que pega os quatro cantos do Derby, a Rua Henrique Dias, a Rua Dom Bosco, a Avenida Manoel Borba, a Rua Gonçalves Maia, a Rua Oswaldo Cruz, a Rua João Fernandes Vieira e a Agamenon Magalhães daquela altura simplesmente parou. Algumas chuvas rápidas durante o dia inteiro que se intensificaram no começo da noite e uma chuva calibrosa de uns vinte minutos próximo das 22h, somada à maré alta que  teve seu pico de 1,66m às 20:30, foram suficientes para Recife virar um parque aquático. As ruas e avenidas que citei neste artigo estavam todas com água ou de ponta a ponta os nas laterais da pista. O resultado foi exatamente o mesmo de quando a coincidência de chuva e maré alta ocorre no começo da manhã ou no final da tarde: Caos. Percursos de 10 minutos tornaram-se 1 hora, igualzinho aos outros horários de pique. Enfim Recife, cidade grande, copa do mundo a vista (não é na cidade mas esta é a capital) ganha um novo horário de pico: É o Rush das Dez!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Que Absurdo!!

Certo dia eu entrei no msn e, por conta de algum fato que agora me foge à memória, coloquei uma imagem que era um desenho do Homer Simpson inserido na obra clássica O GRITO, e no perfil eu escreví QUE ABSURDO!! A intenção era protestar sobre um fato que realmente me foge da memória e você vai compreender o porquê.

Como toda mudança de foto e perfil no msn, intencionei ficar alguns dias ou no máximo uma semana e depois retornar ao perfil vazio ou mudar para um outro tema. Mudar a imagem também ou para uma foto minha ou mesmo uma outra imagem que combine com um próximo tema. Mas não foi isso que ocorreu. Incrivelmente a imagem do Homer em pânico e o perfil dizendo QUE ABSURDO, por várias semanas se encaixaram perfeitamente em vários acontecimentos no mundo. Terremoto no Japão, alta do preço dos combustíveis no Brasil, corrução política, chacina de realengo, enfim, foram tantas notícias, não só as que citei aqui neste texto, que ficou difícil mudar a imagem e o perfil pois estes todos os dias estavam condizentes com as principais notícias do mundo.

Hoje eu decidí mudar, um dia frio na região metropolitana do Recife, coisa difícil de acontecer, coloquei uma imagenzinha lânguida de um cãozinho dormindo de forma bem relaxada para ilustrar a preguiça gostosa que a temperatura oferece ao metropolitano do Recife nestes dias. Porém o Homer caberia perfeitamente também no dia de hoje pois quem anda pela cidade vai ficar com a mesma expressão do desenho animado ao se deparar com o trânsito interminável, os semáforos em alerta ou desligados, as ruas alagadas escondendo verdadeiras crateras.

Por precaução a imagem aflita do Homer vai ficar guardada no meu arquivo de imagens pois uma hora, certamente, vou precisar dela.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amor só com maturidade

Todo mundo deve ter dito ou visto alguem dizer a talvez frase mais dita do mundo um dia. Quem nunca disse EU TE AMO mesmo sem saber exatamente o que está dizendo? Tem ainda casos mais complicados. Tem gente que ama desde novo mas nao sabe exatamente o que fazer com este sentimento. O fato é que sem maturidade inexiste um amor tranquilo. Amar sem maturidade eu posso comparar a alguem que acabou de aprender a andar de bicicleta tentar pilotar um aviao.

Amor é um sentimento grande demais, forte demais, quem bem souber nao se mete a amar enquanto nao tiver estrutura suficiente. Quem ama antes de estar pronto pra isso mete os pés pelas mãos, toma atitudes erradas, corre do sentimento mas corre no máximo em círculo, corre da pessoa amada achando que a distancia ou o contato com outras pessoas vai findar aquele sentimento. Quem ama na hora errada não tem paz em sua vida, joga fora, desdenha o amor, desacredita, deixa de lado, testa a paciencia da pessoa amada, testa seus proprios limites.

Triste de quem ama na hora errada pois se ama de verdade vai, na maioria das vezes perder este amor e poucos vao ter a sorte de recuperá-lo depois. Quem dera a todos conhecer primeiro a maturidade para, somente depois, conhecer o verdadeiro amor.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DIA DE ELEIÇÃO

Aos sessenta e cinco anos de idade Sr. Elias estava lúcido e continuava sério, homem de poucas e duras palavras, daquele tipo de senhor que causa certo medo. Quinze anos atrás sofrera um acidente vascular cerebral que lhe tirou o movimento de todo lado esquerdo do corpo e, revoltado com o fato, mal saia de casa. Tornando-se, assim, uma pessoa de pouquíssimas palavras e com uma criatividade bastante rápida para distribuir desaforos.
A revolta do Sr. Elias era compreensível. Desde novo trabalhava viajando por todo o nordeste brasileiro, mal parava em casa. Tornou-se pai muito cedo de quatro filhas e quatro filhos e também se tornou avô muito cedo. Os dois primeiros netos, casal com diferença de apenas dois anos de um para o outro, ficavam felizes ao ver o Sr. Elias quando crianças. Como o vovô viajava demais, era uma grande alegria para todos poder passar algumas horas escutando as histórias, várias, que eram do repertório. Aos 50 anos a alegria foi retirada daquele senhor de estatura baixa e desde então a única diversão do Sr. Elias era ficar diante da televisão. Os filhos e netos até tentavam animá-lo, passear com ele, mas o vovô Elias tinha uma certa vergonha de não conseguir caminhar sem ajuda e rechaçava a ideia de utilizar-se de cadeira de rodas.
Anos se passaram, Sr. Elias sempre de frente a televisão assistia desde desenhos animados a novelas, desde seriados a filmes bons e ruins, todos os telejornais, programas de humor, enfim, o controle remoto mais parecia ser um membro a mais de seu corpo. O horário que mais o animava era os dos telejornais, em especial o noticiário político. Escândalos, crises, Sr. Elias assistia a tudo maravilhado enquanto comentava – Ninguém mais presta, tudo corrupto, tudo incompetente.
Naquele ano houve eleições, um dia antes do pleito Sr. Elias convoca um dos filhos:
- Inaldo! Vem aqui!
- Oi papai!
- É o seguinte, amanhã são as eleições, eu quero ir votar.
Inaldo sabia que o pai não precisava ir votar. Aposentado por invalidez, nada obrigava o Sr. Elias a ir até as urnas naquele dia. Mas o pedido pareceu-lhe interessante, até porque Sr. Elias nunca saia de casa, nunca queria sair e negava todos os convites para passeios para onde quer que fosse. Respondeu:
- Ok papai, vamos sim...
- Ah, e vou logo dizendo, não quero saber de cadeira de rodas.
- Mas papai...
- É assim e pronto. Eu vou votar, você vai me levar até lá.
No dia do pleito acordaram cedo, Inaldo ajudou o pai a tomar banho, deu-lhe comida e foi com muita dificuldade ajudá-lo a sentar no carro.
Chegaram à escola, cheia de gente. Pessoas que há anos não se viam estavam aproveitando o reencontro que só acontece em dia de eleições. Ao verem pai e filho com muita dificuldade saindo do carro houve comoção geral:
- Olhem, isso que é exemplo de cidadania, olha que coisa bonita!!
- Gente, o rapaz está levando aquele senhor praticamente nos braços para votar, isso é que é um brasileiro consciente.
Uns jovens parados ali na escola comentavam:
- Eu nem ia votar. Mas olha ali, tenho até vergonha de não ir.
Uma multidão começou a se juntar para ver aquela cena, algumas pessoas se ofereciam para ajudar, mas Inaldo, agradecendo, dizia que não precisava. Até precisava, no entanto sabia que o Sr. Elias não admitiria que pessoas o tratassem igual a “aleijado”.
Naquela escola, grande, central de um bairro grande do Recife estava a imprensa fazendo a cobertura das eleições. Quando viram a cena avançaram em cima e no link ao vivo a repórter emocionada transmitia:
- Estamos aqui direto da escola Clóvis Beviláqua em Recife onde podemos ver uma cena emocionante. Ali o filho carrega nos braços o pai rumo ao exercício da cidadania. Vamos tentar falar com eles.
- Bom dia, mesmo com dificuldade não vão deixar de votar, não é?
Inaldo com um sorriso meio amarelo respondeu ofegante:
- Oi, bom dia, desculpa papai não gosta muito de falar.
Mesmo assim as câmeras fixaram nos dois, outros veículos de imprensa estavam curiosos para sabere em quem aquele senhor tão consciente votaria, pessoas aplaudiam, ofereciam água mineral, chocolate, ajuda, uns mais emocionados tinham água nos olhos, candidatos que votam na mesma escola tentavam se fazer percebidos em oferecer algum tipo de ajuda. Debaixo de aplausos o Sr. Elias entra na seção eleitoral, assina e segue, auxiliado pelo filho, em direção a urna eletrônica. A presidente da mesa dá a autorização:
- Sr. Elias, o senhor pode votar.
Vários curiosos se esticavam na porta da sala onde não dava para ver o Sr. Elias, mas podiam ver o rosto de seu filho arregalando os olhos numa expressão desesperada enquanto Sr. Elias digitava zero em todos os candidatos e em seguida dizia:
- Tudo ladrão, tudo ladrão.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A menina do interior.

Estava beirando os trinta anos. Filha mais velha de uma família do interior de Pernambuco, Débora via-se pressionada a casar-se logo por conta dos casamentos da irmã do meio e do irmão mais novo. A irmã do meio inclusive já tinha tido filhos, gêmeos, eram os xodós da família inclusive da titia coruja.
Um grande problema é que aquela menina franzina que aparentava ter 15 anos tinha sua sorte para namorados antagônica à sua beleza. Linda, atraía todo tipo de homem seja mais novos, mais velhos, casados, noivos, em alguns momentos se apegou a alguns deles, mesmo alguns noivos e outros com namorada, nunca algum casado, pelo menos não que ela soubesse. Outro problema era o fato de ser virgem, carregava a pressão da família por casar-se virgem e não ser motivos de falatório na cidade da família.
Era uma injustiça o que acontecia com Débora, a irmã casara grávida e jurava que era virgem a todo mundo. Mas como casou-se com alguém da própria cidadezinha, aquilo entrou pela perna do pinto e saiu pela perna do pato e ficou por isso mesmo. Até por que o casamento aconteceu antes da barriga crescer então quando os falatórios iniciariam o casamento já estava consumado, então as fofoqueiras da cidade não tomaram tanto gosto pelo assunto.
A pressão ficou com ela e era renovada a cada visita no interior:
- Essa é o orgulho da família. Cinco anos estudando no Recife e não me dá desgosto, vai se formar e se Deus quiser casa logo em seguida, e virgem! Dizia com orgulho quase que aplaudindo a filha a exigente dona Inaura.
Já a irmã dizia olhando de lado e com um sorrisinho sarcástico, malicioso:
- Morando cinto anos no Recife e virgem... sei... cuidado não Débora, mentira tem pernas curtas. Eu antes de engravidar também era virgem.
Os comentariozinhos da irmã eram tão constantes quanto irritantes sempre que visitava a casa dos pais. Não se davam mal, mas o fato da santificação de Débora fazia com que a reação da irmã fosse sempre arisca quanto a este assunto.
Certo dia Débora conhece Tony, moreno de olhos azuis intensos e rosto de menino. Um rosto tão angelical que fazia todas acreditarem que é apenas um menino alto necessitando proteção, apesar dos trinta anos de idade. Débora apaixonou-se pelo rapaz e foi correspondida. Não na mesma intensidade, mas se comparados aos outros relacionamentos, Débora fora uma premiada.
Tony estava acostumado a ter belas pequenas próximas a ele e era agradável com todas. Era tão atencioso que várias delas se julgavam as únicas ou as definitivas. Havia quem tivesse certeza de ser a alma gêmea e algumas mais exageradas afirmavam que era um relacionamento que vinha de outra vida. O problema era que, mesmo sendo alguém muito simpático, carinhoso e atencioso, Tony tinha pavor de casamento. Dizia “Casar é bom, mas morrer queimado é melhor ainda”. Certo dia o pai cobrou com ar de preocupação:
- Filho, estás bem empregado, estás com trinta anos, necessitas casar-se. Eu estou velho e queria muito um neto para alegrar a vida minha e de tua mãe.
O pai de Tony foi um jovem arruaceiro. Mesmo casado, vivia entre as farras e o trabalho. Nada faltava em casa, sempre manteve uma vida de várias regalias para a família, mas faltou com a presença durante toda a infância dos filhos. Agora já beirando os sessenta anos e com problemas no coração, via com ar de inveja os amigos exibindo os netos bebezinhos e se fascinava. Dizia “Esta casa está precisando de uma criança”.
Um dia após o café da manhã, aproveitando um momento que Tony retirou-se da sala de jantar, Seu Mauro faz a cobrança numa súplica de dar pena:
- Débora, escuta bem. Eu quero um neto.
- Mas seu Mauro, Tony nem quer casar.
- Quero que saiba de uma coisa, eu te apoio no que fizeres. Te apoio no que quiseres. Só quero um neto.
Aquele pedido martelou sua cabeça pelos dias seguintes. De um lado a mãe cobrando a virgindade, do outro lado o sogro cobrando um neto. A cobrança do sogro era melhor aceita pelo coração da pequena. Ela também queria um filho, ela não se importava com a virgindade, mas morria de medo de comentários típicos de interior “Tá vendo? Foi estudar em Recife e voltou com barriga” ou mesmo “Olha aí no carrinho o diploma de faculdade que ela foi buscar”. Era um dilema e ela pressionava Tony:
- Tu sabes que teu pai quer um neto. Por que não casamos?
- Calma meu amor, não tenhamos pressa. Tantos casais eu conheço que se apressaram assim e não foi bom.
- Não tem que se comparar com ninguém, Tony, isso é uma desculpa esfarrapada!
- Nada disso. Acho bom ficar calma aí. Vamos esperar pra ver se realmente é a coisa certa, isso virá com o tempo.
Débora sabia que o fato de ser virgem era indiferente para o namorado, aliás, era um ponto fraco no relacionamento pois certamente ele não casaria com alguém antes de ter uma vida sexual ativa. Ela também não se importava em ser ou não virgem mas o medo de engravidar por conta da reação da mãe era algo assustador até ali. Porém o desejo do sogro em ter um neto fez esse medo entrar em confronto com uma vontade até então desconhecida de ser mãe. Então naquela mesma noite:
- Tony, estou decidida. Esta noite quero ser sua.
- Tem certeza meu amor? Não quero forçar você a nada, falou Tony torcendo para que ela não voltasse atrás com a decisão tomada.
- Tenho sim.
- Tudo bem, deixa eu pegar preservativo, sei do teu pânico de engravidar e não quero causar tristezas.
- Obrigado meu amor, eu sabia que seria cuidadoso comigo, vem, estou decidida, sou tua.
Foi uma noite incrível. Os dois só adormeceram quando o sol já brilhava alto. Durante todo o dia ficaram no quarto, a gaveta de roupas onde ficavam vários preservativos que o pai dava para Tony quase se esvaziara deste artigo. Pausas apenas para comer, tomar água ou ir ao banheiro. De resto foram duas noites e um dia inteiro dentro do quarto tal qual um casal em lua de mel em pleno namoro.
Um mês depois o improvável acontecia. Débora estava grávida. O exame que foi feito na certeza do resultado negativo surpreendentemente deu positivo. 
- Mas como? Impossível, esse filho não é meu! Sempre usamos camisinha, grita Tony trancado ao quarto junto com Débora.
- Mas meu amor, eu não sei, dizia ela chorando, eu nunca fui de outro somente com você.
- Débora, não tem como, como foi isso?
De repente alguem bate à porta:
- Tony! Chama o pai que escutava a conversa por trás da porta.
- Sim pai.
- Me diga uma coisa meu filho, vocês usaram apenas os preservativos que eu te dei?
- Sim.
O velho abraça-se ao filho chorando e dizendo.
- É meu neto, é meu neto.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Consultoria.

Seis e meia da manhã. Após o café, um beijo na testa da esposa e uma breve conferida nas páginas de esportes, economia e alguns outros destaques da capa. No alto dos seus sessenta anos, Gonçalves nunca lia as páginas policiais “Inúteis, notícias que não servem pra nada”, ralhava. Sua mulher, uma jovem senhora de sessenta e um anos era de uma calma tibetana e retirava a mesa olhando o relógio de parede, sempre atenta ao horário para que o marido não perdesse o dia de trabalho. As sete Marilene avisa:
- Meu bem, são sete em ponto. Acho melhor ir logo, pois com esta chuva o transito pode ficar ruim.
- Tudo bem, já vou indo, falava calmamente enquanto tirava os chinelos e calçava os sapatos pretos impecáveis.
Gonçalves era um respeitado consultor em administração. Trabalhava numa não menos respeitada consultoria da capital pernambucana e tinha no currículo o salvamento de várias empresas que estavam em profundas crises antes de contratar o trabalho da mais alta qualidade do Sr Gonçalves.
Ao chegar no trabalho, a novidade:
- Gonçalves, lembra da queda nas ações daquela empresa de transporte? Batata, é crise! Já ligaram pra cá faz 5 minutos, vão retornar daqui a pouco. Pelo tamanho da bomba é melhor que seja você pra encarar.
- Deixa comigo, eu já vinha tendo acesso às atas e já até sei mais ou menos por onde começar.
Era um profissional muito proativo. Quando começou a ter informações da queda da empresa de transportes já previu que poderiam precisar de consultoria. Já foi estudando as causas e as possíveis saídas e antes que a bomba estourasse já tinha pensado por onde começar a consertar os problemas que geraram a crise.
O fato é que aquela empresa de transportes estava com seu gráfico em queda livre e precisava de medidas urgentes para não entrarem no fundo do poço, pois já estavam na metade dele. Conversaram com o experiente Gonçalves e fizeram uma ressalva:
- Estamos chamando duas empresas de consultoria, espero que não se importe. Gostaria de ter pontos de vista diferentes e que vocês conversassem para chegarmos ao ponto mais seguro de decisões a serem tomadas.
Gonçalves não fez protestos. Confiava em seu trabalho, mas aceitou sem problemas a participação de outra empresa na resolução do problema. Na primeira reunião marcada conheceu a representante da outra empresa. Ficou embasbacado. No alto de um salto de sei lá quantos centímetros estava uma morena de matar. Ao quarenta anos, Clara contrastava seu nome com o bronzeado da pele perfeita, os cachos caiam pelas costas numa sincronia sinfônica. Nunca fora casada, o mais perto que chegou disso foi um noivado de dez anos que se dissipou rumo ao rabo de saia alguns anos mais nova. Depois disso resolveu entregar-se ao trabalho e cuidar de si própria e fazia isso com perfeição. Era uma profissional que chamava a atenção por sua altivez, segurança e beleza. Aquela “menina”, na visão do Sr Gonçalves, tinha 20 anos a menos de experiência e 100 anos a mais de impetuosidade. Por ser mulher em um meio tomado pelos profissionais do sexo masculino, teve que crescer na profissão mostrando força e determinação. A empresa acertara na mosca, Sr Gonçalves e a Sra. Clara fizeram um belo trabalho e atingiram os objetivos. Porém por força do trabalho que não foi nem um pouco fácil, precisavam se encontrar várias vezes por semana e se telefonar outras várias por dia, o que criou nos dois inicialmente uma amizade intensa e depois um envolvimento inevitável.
- Clara, jantamos juntos amanhã?
- Hummmm, depende.
- De que?
- Só se você me prometer que jantaremos juntos também depois de amanhã.
Após alguns jantares o romance começou a acontecer e o fogo intenso daquela loba não fez questão de cerimônias. Ela que já pensara tudo antecipadamente fez questão que o encontro fosse no carro dela, ora, quem dirige é que manda no destino. Então sem perguntar nada, sem nenhum pudor desnecessário dirigiu-se a um motel enquanto Gonçalves apenas observava com os olhos arregalados. Dizia “Não é melhor irmos com calma?” e ela sorriu respondendo “Meu bem, essa pergunta quem deveria fazer aqui era eu, a mulher aqui sou eu”.
Com a frieza pacata do casamento e a pressão do trabalho, Gonçalves estava sexualmente adormecido fazia tempo. Aquela situação acabou deixando-lhe tenso e nada demais aconteceu naquelas horas dentro da suíte. Clara compreendeu e não fez cobranças nem comentário. Agiu como se tivesse ido àquele motel apenas para conversar e curtir de forma leve. Ao chegar em casa ralhou sozinha “Que droga, o que há de errado comigo?”. Olhava-se no espelho, checava o próprio cheiro mas não via problemas. Pensou “Mulher bonita assusta” e deu um sorriso antes de dormir.
Gonçalves chegou em casa um pouco frustrado e no outro dia procurou apoio médico. Fez tratamento com hormônio, começou a praticar exercícios e quinze dias depois sentiu segurança para tentar novamente:
- Clara, amanhã te busco no meu carro tá bem?
- Ok, respondeu Clara já sentindo o corpo responder positivamente ao imaginar o que estaria por vir.
No dia seguinte Gonçalves repetiu a fraqueza. Na ocasião foi ainda pior pois a adrenalina do medo de falhar fez sua pressão subir, as mãos suavam. Ele tentava fingir que estava tudo bem, deitou Clara nua para fazer-lhes carícias, ela esperava com toda certeza de que não havia mais problema algum mas depois de quase uma hora ele deita ao lado dela com os olhos fechados e respiração ofegante.
- Não dá, não consigo.
Clara respira fundo, excitada como estava não queria perder mais uma viagem. Deita por cima dele, tenta de toda forma estimular uma reação daquele homem na qual estava apaixonada, mas sem sucesso. Na volta para casa, somente se escuta o barulho do motor. De tão decepcionados com a situação sequer lembraram de escutar um pouco de música até por que seria inútil já que cada um estava mergulhado em seus próprios pensamentos.
Alguns dias se passam sem que haja contato de um nem de outro. Gonçalves que não tinha hábitos arruaceiros resolve sair com amigos em busca de outras garotas. Quer ter certeza que está tudo bem com ele pois os médicos garantiam que não havia problema algum e que era tudo questão psicológica. E de fato, em um mês Gonçalves conhece várias outras garotas, umas de meia idade, outras novinhas interesseiras e com todas elas consegue, nos limites da sua resistência física, proporcionar-lhes noites perfeitas. Passados exatos trinta dias Gonçalves aparece de surpresa no trabalho de Clara
- Hoje você prefere carne ou peixe?
- Hoje eu quero você!
Clara toma a chave do carro de Gonçalves e vai dirigindo direto para um motel. Não quer saber de perder tempo. Entram no quarto e mal dá tempo de tirarem as roupas. As saídas deixaram Gonçalves mais seguro de si e isso já era visível, Clara estava pronta para aquela noite tão aguardada e ele também sonhava com aquilo dia e noite. Carícias, preliminares, tudo ocorreu perfeitamente, o fogo daquelas 40 primaveras eram intensos. Então ela joga Gonçalves em cima da cama e pula em cima dele, mas algo estava errado. Como uma queda de energia, Gonçalves perde a força masculina e novamente não consegue fazer amor com ela.
Clara levanta-se muda, vai ao banheiro. Volta vestida, ligara para uma empresa de táxi que enviou um carro em poucos minutos à porta da suíte. Gonçalves respira fundo e vai pra casa, dá um beijo na testa da esposa e senta ao sofá para ver o telejornal.

Vinho tinto.

Resolveu verificar a agenda do aparelho celular. Naquele domingo a tarde lá do alto do décimo andar daquele bairro nobre e pacato as doses de whisky já não eram companhia suficiente. Aos 25 anos, Araújo era uma exceção quando comparada à grande maioria na sua idade. Morava sozinho em um bom apartamento numa ótima localização e levava a vida sem grades percalços. Trabalhava, ganhava bem e curtia a vida a todo momento sem nenhuma preocupação em casamento ou constituição de família. Antes que achasse um número a quem ligar, o telefone toca:
- Araújo? Tudo bem?
- Oi menina, tava pensando em você agora mesmo!
- Quando é que a gente vai tomar aquele vinho que você prometeu?
- Pois é menina, tu estás adivinhando. Ele já está gelado aqui e eu ia te ligar justamente pra isso. Vou buscá-la?
- Não, eu chego aí daqui a pouco. É melhor. Depois eu te digo o porquê.

Araújo apressou-se em ir ao hipermercado e comprar um vinho tinto suave e depois ficou na torcida para ele gelar logo. Não havia programado nada daquilo, no máximo tinha dado uma cantada sem pretensões num dia perdido durante uma conversa pela internet, nem acreditou quando percebeu que a conversa havia colado.

Taciana era uma menina aventureira com dezenove primaveras apenas. Gostava de noitadas, conhecer pessoas novas, fazer todo tipo de loucura. Conheceu Araújo pela internet e menos de quinze dias depois estava indo ao encontro de um bom vinho gelado.

- Sr Araújo, a Sra Taciana está aqui.
- Pode mandar subir.

Finalmente aquela morena de belas curvas estava ali, na sua frente. Desligou os telefones e não foi de muita cerimônia. Já recebeu a pequena com a taça de vinho em mãos e antes do primeiro gole já estavam aos beijos. O primeiro gole foi preciso, Taciana virou aquela taça de vinho como um sertanejo em pleno verão seco ao deparar-se com um copo de água gelada. Na verdade foi somente para garantir que não haveria acidentes nem sujeiras, colocou a taça no chão e deitou-se por cima do Araújo com mais sede ainda jogando-o sobre o sofá. O interfone tocou.

- Sr Araújo? Há um rapaz aqui que disse que quer falar com a senhorita que subiu ao seu apartamento, disse que era o namorado dela.
- Namorado? Não cara, diz a ele que é engano, tem ninguém com namorado que subiu aqui não.

O susto quebrou o clima naquele momento. Por uma fresta da janela da cozinha dava para ver o rapaz que estava lá, nervoso, andando de um lado para o outro. Havia seguido a namorada, pois dias atrás leu nos arquivos do computador várias conversas que o deixaram de cabelo em pé. Ciumento, porém sem saber como pressionar a pequena, foi no encalço até o prédio onde ela subiu. Era exatamente o prédio cujo endereço foi citado em uma das conversas picantes da garota pela internet nas quais ele teve o acesso invasivo. Fez plantão lá embaixo.

- Taciana, e agora?
- Deixa ele pra lá, uma hora ele cansa.

A segurança de Taciana com aquela situação estimulou o prazer pelo perigo e continuaram aos amassos no sofá e bebendo todo vinho que tinham vontade. Foram ao quarto, ela era de um fogo anormal, gritava de prazer de uma forma que parecia querer que, dez andares abaixo, o namorado pudesse escutar. O interfone toca novamente:

- Sr Araújo, a Sra Carmem está aqui e quer falar com o senhor.
- Carmem? Bota ela aí.

O namorado de Taciana havia ido buscar Carmem para que ela tivesse a missão de subir ao apartamento do Araújo em busca de conferir se era sua pequena de fato que estava por lá. Mas o tiro acabou saindo pela culatra pois Carmem subiu e resolveu curtir o vinho e a companhia lá dos dois. Curtiu tanto que, num momento que de tanto beber Taciana cai adormecida, ela resolve curtir Araújo que já comemorava aquela tarde tão improvável que estava acontecendo. Pela fresta da cozinha conferiu e o rapaz continuava lá sentado sobre a calçada aguardando o retorno da investigadora.

No começo da noite desce Carmem levemente alta e vê o olhar aflito o curioso o rapaz sentado ao chão. Araújo havia pedido um táxi para ela e este a aguardava na frente do prédio. Ela sai da portaria, o rapaz levanta-se, ela simplesmente olha pra ele, dá uma gargalhada e entra no táxi. O rapaz volta a sentar-se na calçada e de tanto esperar adormece. Horas depois desiste e vai à casa de Taciana que já está adormecida com uma expressão de felicidade. Araújo havia percebido que ele adormecera na calçada e rapidamente colocou a garota em seu carro e levou-a para casa em segurança. Ainda viu o rapaz lá deitado quando voltou. Mais tarde toca o telefone e uma voz de choro fala:

- Alo, eu quero falar com Ara... A.... é Araujo!
- Com quem? Sabe que horas são? Isso é hora de passar trote para casa dos outros? Você não tem vergonha não?
- Me desculpe senhor.... é que eu pensei...
- Pensou o que? Em incomodar?
- Não, não, desculpe, desculpe, foi engano.

Araújo desliga dá uma gargalhada enquanto combina pela internet para tomar um vinho com Carmem.


sábado, 4 de setembro de 2010

A ex namorada.

Era linda. Silvia no auto dos seus um metro e setenta e nove de altura era uma dessas mulheres de virar a cabeça. Os loiros cabelos, as pernas grossas e condizentes com toda a estrutura corporal era de ativar a testosterona de qualquer um. Tinha uma filha pequena e estava recém-separada. Seu ex marido, rapaz alto e também muito bonito, entregou-se ao álcool e acabou destruindo a vida em família. Depois de muito sofrimento Silvia resolve separar-se.
Um mês após a separação ela pensou:
- Será que eu devo ligar.....?
O fato é que Silvia nunca esquecera do Eduardo, um ex namorado que teve aos 24 anos. Naquela época estava ainda virgem e era criada como uma boneca. A mãe muito ciumenta fazia questão de comprar ainda ursinhos de pelúcia para aquela mulher que até na voz parecia ainda uma criança. E Silvia gostava, sentia-se protegida, na verdade, por aquela senhora que ao mesmo tempo que a amava a torturava com regras duras e rudes. Silvia não conseguia namorar e acabava por não sentir falta de tal. O amor envolvente da mãe obcecada por aquela menina não dava espaço para que ela respirasse. A qualquer momento que Silvia vacilasse a mãe repetia:
- Quem come do meu pão prova do meu cinturão.
Eduardo tinha somente 19 anos. De uma família de classe média tinha no pai um exemplo de rebeldia. O pai andara na ditadura enfrentando polícia, andou com partido comunista e criou os filhos sempre mostrando que poderiam lutar por tudo que fosse correto e lícito e que não deveriam nunca aceitar injustiças. Eduardo conhece aquela mulher linda na universidade de Administração, ela alguns períodos na sua frente, fica embasbacado com tamanha beleza. Ao ver que uma amiga a conhece, faz a pergunta:
- E aquela loira ali? Apresenta?
- É virgem e tem namorado, tira o cavalo da chuva.
É virgem...... Eduardo nem escutou a frase ''tem namorado'', ficou somente pensando - Como pode? Linda, universitária e virgem? Mas o fato é que ela não tinha namorado, foi só uma brincadeira da amiga, mas quanto a virgindade era batata.
Conheceram-se e começou um namoro que durou apenas 3 meses. Tempo suficiente para aquele rapaz habilidoso resolver o ''problema'' da virgindade. Mas ela adorou aquela libertação, a partir daquele namoro tornou-se uma mulher mais forte, mais contestadora. O convívio com Eduardo fez com que ela enfrentasse a mãe, caísse no mundo rumo ao trabalho, mas o término do namoro havia sido traumático. Por conta de uma ex namorada, Eduardo desiste de Silvia e retoma o antigo relacionamento.
Após anos, os dois se reencontram, lavam a roupa suja do passado, tornam-se amigos. Amigos de cama. Silvia com uma esperança de reconquistar seu amado queria fazer de tudo, mas Eduardo era muito descolado, os anos passados o fizeram ter muitas experiências, voltar no tempo não seria algo a ser cogitado. Depois de tentar muito tempo Silvia namora outros rapazes, some, reaparece, some de novo, torna a aparecer, até que casa-se e sumiria por mais de um ano.
- Vou ligar. Alo?
- Sim?
- Eduardo?
- Sim!
- Nem adivinha quem é?
Aquela voz de criança era inconfundível. Silvia já com 30 anos mantinha a voz talvez dos 10 anos de idade. Eduardo titubeou.
- Bem... não sei, eu acho...
- É Silvia
- Silvia? Não acredito, tudo bem com você? Como vai a filha, o casamento?
A pergunta era estratégica, sempre que Silvia se afastava para namorar outro rapaz e mesmo durante o casamento ela NUNCA fora infiel. Quando encontrava com Eduardo, mesmo cheia de vontade ela segurava a onda mas não feria seus princípios. Se estava comprometida estava e pronto, não importa mais nada, vivia para a pessoa sendo feliz ou infeliz. Ela então responde:
- Eduardo, eu preciso falar com você. Urgente. Pode me encontrar hoje?
Eduardo parou um instante. Sabia que ela tivera uma filha. Fez as contas, ficou com medo dela dizer que a filha era dele, mas depois viu que era impossivel. Do tempo que não se viam até o nascimento da pequena, não daria tempo. Mas ficou curioso:
- Posso, à noite?
- Sim, combinado.
O que Silvia queria não era nada demais. Eduardo era o ex namorado, o amigo, o confidente, enfim, era a pessoa na qual ela mais depositava confiança. Queria só ele por perto de novo. Queria o amigo de cama, e que cama, ela adorava essa parte, por mais que tenha conhecido outros rapazes era o Eduardo que a fazia mais realizada.
- Faço o que quiseres, não te preocupes com cobranças. Pode namorar quem quiser, pode casar se quiser, não me importo, só quero que continues meu amigo.
No fundo Silvia, mesmo recém separada, alimentava ainda a esperança de ter o ex de volta. Via ele brincar com sua filha com tanto carinho que sonhava: - Não podia ter sido ele o pai da minha filha?

Certo dia o convocou:
- Eduardo, não vou perder tempo com enroladas, quero que venha aqui fazer amor comigo!
Pasmo com o convite tão direto, Eduardo não pode negar. Foi até lá e tal qual uma pizza pedida por telefone já foi atacado ao entrar no apartamento. Ao final ela suspirava
- Fazer amor contigo é muito bom. Tens alguma fantasia? Fala, eu realizo.
Ele pensou, arriscou:
- Tenho uma, gostaria de ir para a cama com duas mulheres. Mas não somente isso, o que eu queria era que estas duas mulheres estivessem transando.
Silvia ficou gelada. Pensou um pouco:
- Outra mulher? Mas eu nunca toquei nem fui tocada por uma mulher!
- Eu sei, não lhe parece uma experiência interessante?
Silvia já se arrependera de ter feito a proposta, mas não queria mostrar fraqueza. Eduardo duvidava que ela toparia, mas ela fez apenas uma exigência:
- Edu, eu topo, mas sem beijos. E outra coisa, ela pode tocar em mim, mas eu não quero tocar nela.
Surpreso, Eduardo se encheu de empolgação. Nunca imaginava que isso aconteceria assim tão fácil. Passou a mão no telefone no dia seguinte e ligou para uma amiga que saia com ele de vez em quando e que gostava de mulher. Marcaram o dia e tudo aconteceu. Auxiliada por algumas garrafas de vinho Silvia estava irreconhecível, a explosão dela impressionaria até ao mestre Nelson Rodrigues. Fez amor com aquela mulher e com o Eduardo com um prazer estampado no rosto, um sorriso freqüente. Esqueceu-se das regras que impusera e curtiu o momento como ela nunca imaginaria na vida.
Na semana seguinte Eduardo telefone para Silvia que pergunta:
- Oi Edu, tudo bem contigo?
- Tudo sim, quando a gente se vê?
- Não sei, Edu.
- Como não? O que houve?
- Edu, aquela tua amiga.... tá comigo agora. Obrigada por apresentá-la. Voce sabe, quando estou namorando....

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pedido de casamento.

Era sempre uma alegria às sete e meia da manhã. Ali no mesmo ponto do ônibus, Ana o esperava para pegar carona rumo a mais um dia de trabalho. Entrava no carro e abria o sorriso que dava a Deivson a energia necessária para mais um dia de trabalho:

- Bom dia boneca

- Bom dia, respondia ela com um sorriso no rosto exibindo o brilho juvenil que o aparelho dava nos dentes.

Trabalhavam juntos há uns dois anos aproximadamente, passavam o dia todo juntos, almoçavam juntos, iam e voltavam. Diariamente conversavam sobre todos os assuntos possíveis, um era o colo do outro quando era necessário, até que este intenso convívio foi fazendo com que um se torna-se indispensável para o outro. Bastava um faltar o trabalho para o outro ficar em um pé e outro de preocupação. Passaram a morrer de medo de serem demitidos, não pelo mercado pois eram profissionais competentes, mas por que passou a ser impensável trabalhar um sem o outro. Até que um dia.
- Deivson.... o que fizemos?
- Calma Ana..... meu Deus, será que alguem viu?
- Acho que não, por favor, me beija de novo, por favor...
Havia apenas um problema: Ana era casada ha 10 anos. Um casamento morno, sem graça, um casamento que já passara por pelo menos quatro grandes crises. Recentemente o marido de Ana, pouco mais de 4 anos mais velhos que ela, era daqueles rapazes politicamente corretos e que vivem para o trabalho. Vive tanto para o trabalho que viaja as vezes durante semanas e quando chega em casa nao sai de cima do computador, a nao ser para ir jogar futebol ou fazer a manutenção no carro. O fato é que Ana sempre vinha em último lugar, era como se fosse somente obrigação.

Daquele dia em diante Deivson e Ana ficaram ainda mais próximos um ao outro. Toda a atenção que faltava do marido ela encontrava nele e ele que sempre teve a característica de galanteador, mulherengo, se via fiel àquela mulher casada. E tinha que ser fiel mesmo pois qualquer mulher que se aproximava de Deivson era motivos para discussoes e crises de ciúmes. Até que um dia Deivson confidenciou:
- Nunca amei tanto uma mulher como amo você. Ainda vou fazer você casar comigo
Ana sorriu carinhosamente
- Não diz isso, eu sou casada, eu tenho um filho e criar filho com pais separados eu nao quero.

Ana tinha um menino vívido, alegre. De início ele não gostava muito do Deivson mas este o tratava com tanto carinho que o menino passou a ter paixão pelo ''Tio''. Era sempre coberto de presentes, doces, o ''Tio Dedé'' fazia de tudo para alegrar o menino, pensava - Crio ele como um filho, faço mãe e filho felizes.

O tempo passava, os encontros não eram fáceis mas não eram difíceis. Faziam amor dentro do escritório, ficavam fazendo hora extra simplesmente para ficar sozinhos. Namoravam dentro do carro, escolhiam sessoes de cinema dos piores filmes possiveis para que a sala estivesse vazia e assim ficar a sós. Deivson insistia
- Vamos a um motel, é mais tranquilo, mais confortável
- Deus me livre, motel não. Nunca fui nem com meu marido. E ainda mais, imagine se alguem que trabalha lá me conhece? Ia ser um escandalo!

O fato de Ana não querer ir a motel dificultava um pouco as coisas. Deivson morava com a mãe e a avó e não levava mulher para dentro de sua casa. Tinha sempre que usar o máximo da criatividade para criar momentos em que os dois pudessem estar sós e seguros mas a insegurança fazia com que Ana ficasse ainda mais cheia de fogo e de vontade de se jogar nos braços do seu querido. Um dia Ana desabafou:
- Não sei se dura meu casamento. Everson prometeu que ia mudar, que ia me dar mais atenção, mas dia e noite eu me sinto sozinha. Penso tanto em você, Devi. As vezes mando mensagens pro teu celular com ele do meu lado pois ele está lá mas eu me sinto sozinha.
- Ana, se quiseres dá-lhe um pé na bunda, eu caso com você no outro dia!
- Devi, para com isso. Você é um mulherengo, eu sei que sou só mais uma, falou Ana com um breve sorriso no rosto.

De fato ela estava certa sobre Deivson ser um mulherengo. Aliás, todas as mulheres que se envolviam com ele gostavam e muitas vezes até sabiam que elas não eram a única. Ana falava com a consciência de quem, antes do caso, era uma grande amiga e confidente, mas Deivson de fato estava apaixonado. Até tinha uma ou outra pequena, mas não parava de pensar em Ana um só dia na semana.

Passou-se um ano e meio de relacionamento. Comemoraram o ano, comemorarm dia dos namorados, trocaram presentes, cada dia mais Ana estava mais próxima e Deivson alimentava a cada momento a esperança de casar-se com aquela que escolheu para seu seu maior amor. Como tempo, a esperança tornou-se certeza, os dois já eram praticamente marido e mulher nas ajudas um ao outro, emocionalmente, financeiramente, o convívio diário, a cama perfeita, Deivson entao parou para conversar com uma grande amiga, Bruna era seu nome, e ela o aconselhou:
- E você está esperando o que? Não é qualquer homem que fala em casamento, você fica aí dizendo a ela que quer casar e coisa e tal mas não toma uma atitude. Poe ela contra a parede, homem. Olha nos olhos dela e diz que quer casar-se! Ela vai sentir segurança em ti e vocês vão poder ser felizes!

Deivson ficou com aquelas palavras martelando dua memória. Ria-se feliz em imaginar seguir o conselho. Resolveu:

- Quer saber, a Bruninha tem razão. Eu sou um burro, já deveria ter tomado esta atitude faz tempo! Claro, ela está somente esperando isso. De hoje não passa.

Em brincadeiras Deivson já havia tirado a medida do dedo anelar da amada Ana, já sabia exatamente o tamanho de uma aliança. Apressou-se em comprar naquele mesmo dia. No dia seguinte de manhã:
- Bom dia Boneca
- Bom dia Devi.
- Hoje jantamos juntos?
- Não sei Devi, ''ele'' pode chegar de viagem hoje e...
- Por favor.... hoje quero te mostrar uma coisa mas só se for no jantar.
- Oooolha lá hein? O que você vai aprontar? rsrsrs

Foram ao trabalho, foi um dia daqueles que parece que não vai terminar nunca. Se entreolhavam várias vezes e sempre com um sorriso no rosto. Deivson pensava - Tenho certeza que ela já imagina o que é, vê como ela sorrí feliz!!

No jantar, pediram massas, vinho tinto suave, conversaram sobre várias coisas até que ela insistiu com um sorriso curioso:

- Você me trouxe aqui para me mostarr o que?
Deivson tira o par de alianças do bolso e faz a declaração com um sorriso ansioso no rosto e coração palpitante.

- Ana, eu sei que você não levava a sério o que eu falava, achava que eu não tinha coragem. Mas está aqui, quero casar-me com você. Ana, eu te amo de verdade, não quero outra pessoa no mundo que não seja você, termina teu casamento esta noite, resolvemos juntos as documentações, deixamos a poeira baixar e casamos em seguida. Ve a aliança, ouro puro. Falo sério, ou isso ou nada, ou caso contigo ou não toco mais em ti!!

Ana para por um minuto com a aliança na mao, baixa a cabeça, respira e quando levanta revelando o rosto apos afastar-se os lindos e negros cabelos, fala chorando em tom de raiva:

- Você é louco? Quantas vezes eu disse a você que casaria? Quantas vezes eu te prometí isso? Eu sou casada, sempre disse que era casada!! Eu nunca te prometí nada, não ponha palavras na minha boca, você criou essa ilusão sozinho, estou muito magoada com você.

Ana sai sobressaltada derramando a taça de vinho que cai sujando de vermelho a camisa de Deivson.

domingo, 29 de novembro de 2009

Ela me ama!!

Amadeu era um homem sério. Todos conheciam e respeitavam aquela figura interessante que não fumava, que raras vezes botava uma bebida alcoólica no corpo e que desde que casara nunca havia passado uma noite fora. Elza, a mulher de Amadeu, era aquela típica dona de casa que deixava sempre as roupas engomadas, dobradinhas e cheirosas. Era ela quem acordava quase uma hora antes do marido para preparar-lhe um bom café da manhã e deixar já bem separada a roupa que ele teria que utilizar naquele em cada dia de trabalho.

Os dias daquele casal com dois filhos saindo da adolescência eram de uma rotina sonolenta, mas uma rotina que não os incomodava. Ela cuida da casa, ele trabalha. Saiam algumas vezes para restaurantes ou bares onde a musica popular brasileira agravada aos ouvidos. Sempre os mesmos locais. Sempre a mesma mesa, mesma cadeira, mesmo pedido no cardápio. Mesmo posto de gasolina, mesma quantidade de combustível, muitas vezes até na mesma bomba. Tudo parecia fazer parte de um script, um roteiro, um texto cuja peça já era encenada há 25 anos.

Certo dia Amadeu foi convidado por um dos seus amigos de trabalho para tomar umas cervejas e conversar um pouco. Amadeu telefonou à esposa mas esta indisposta por uma virose que a derrubara preferiu ficar em casa mas disse que ele poderia ir sem problemas. Amadeu, responsável como sempre fora, foi até em casa, guardou o carro, levou remédios à mulher e aguardou que seu amigo viesse buscá-lo. No bar, conversaram muito, beberam um pouco além da conta estimulados pela saborosa charque na brasa servida no local até que a hora se estourou um pouco. Amadeu não havia percebido que seu relógio havia parado e estava tranquilo em manter sua meta de sair do bar a meia noite, nem percebeu que já passara das 3h.

Em casa Elza, enfraquecida pela virose, adormecera cedo num sono tão pesado que nem percebeu a demora do marido. Ela sempre estava tão segura da pessoa correta e centrada que era o seu Amadeu que relaxara e adormecera sem maiores problemas.

Amadeu ficou inquieto ao perceber a hora avançada, pensou em pedir um táxi mas o seu amigo prometeu levar-lhe em casa. ''De jeito nenhum, eu vou pegar um táxi até porquê você bebeu demais e eu também'' e saiu em busca do transporte mas parou quando ouviu "Elza não vai gostar de ver você chegar em casa com esse cheiro de bebida". Aquele detalhe fez Amadeu parar pensativo: "O que é que Elza vai pensar de mim? Que sou um beberrão?" e voltou "O que eu faço agora??".

- Calma Amadeu, é só comer alguma coisa, tomar um refrigerante e antes de ir compramos um drops.
- É isso que eu vou fazer!!

Amadeu sentou e pediu uma picanha e um pão de alho. Antes chegar com sabor de carne e hálito de alho em casa do que cheiro de bebida. Para tomar pediu uma fanta uva que julgou ser o refrigerante do sabor mais forte de todos. Após a demora para o prato ser servido junto com o tempo levado para consumi-lo, pagar a conta e pegar o táxi, Amadeu enfim estava a caminho de casa. Seu coração pulava de ansiedade ao ver o dia já claro, nunca fizera isso desde o casamento, suas mãos suavam frio de nervosismo. Chegando em casa, ao abrir o portao Elza despertou, olhou a hora no relogio de parede, conferiu a claridade do dia pela janela e levantou com ar preocupado para receber seu marido. Amadeu entrou, deu um sorriso, um bom dia, foi tomar banho e dirigiu-se à cama. Dias se passaram e Elza não fez nenhum comentário sobre o assunto, agia normalmente afinal ela tinha plena confiança em seu marido e não iria incomodar-lhe com perguntas inúteis.

Certo dia na hora do almoço surge o comentário no trabalho sobre mulheres:

- Ah, a minha mulher é fogo. Basta eu chegar uma hora mais tarde do que o habitual e é a maior zuada.
- E a minha então? Já chegou a rasgar uma camisa minha porque cismou que tinha alguma marca de batom, pode isso?
- Voces dois não sabem de nada, a minha mulher já chegou a me acordar debaixo de porrada porque eu cheguei tarde e quando dormi falei, dormindo, o nome de alguma outra mulher

Amadeu escutava a conversa calado, foi quando um quarto amigo interferiu:

- Vocês deveriam dar graças a Deus. Essas atitudes mostram que suas mulheres amam vocês. Queriam o que? Chegar de madrugada, com marca de batom, etc, e as mulheres sorrirem e acharem que está tudo bem? O dia que isso acontecer podem ter certeza: elas não vos amam mais.

Amadeu sobressaltou-se: "Meus Deus, Elza até hoje não deu uma só palavra sobre o dia em que cheguei pela manhã!!!"

Todos entreolharam-se calados e viram Amadeu sair pensativo e preocupado.

A noite Amadeu chegou até a esposa e comentou:
- "Hoje a rapaziada do trabalho vai sair para tomar umas cervejas, acho que vou também".
- "Tudo bem meu amor, divirta-se!"
- "Você não vai ficar com raiva?"
- "De jeito nenhum."
- "E se eu chegar pela manhã?"
- "Tudo bem."

Amadeu foi ao quarto, trocou de roupa e saiu dizendo "Hoje ninguém me segura, vou enfiar o pé na jaca!!!". Foi a um bar, bebeu, bebeu, bebeu muito enquanto seus amigos diziam "Calma Amadeu, está bebendo demais!!" Mas ele respondia "Não tenho mais que tomar cuidado, minha esposa não me ama mais, ela não está nem aí pra mim, eu quero é beber e beber".

Em casa Elza estava pensativa. Não entendia a atitude do marido, como uma mudança tão repentina poderia ter acontecido com tão centrada pessoa? Telefonou a algumas amigas e as opinioes foram parecidas: ISSO É COISA DE MULHER!! Elza custava a crer mas não havia outra linha de pensamento: "Amadeu tem uma amante. Aquele homem tão correto não poderia ter mudado por sí só, ele só podia estar sendo influenciado por uma amante!"

Pela manhã Amadeu vai dirigindo bebado para casa, som nas alturas e cantando dcesafinadamente om a voz embolada pela embriaguez. Um amigo seu veio seguindo no seu carro logo atrás. Ao chegar em casa Amadeu desce do carro e vai tentar abrir o portao mas tão tonto que não acerta a chave. É ajudado pelo amigo que o seguira, mas quando entram dão de cara com Elza emputecida que joga sacos com as roupas de Amadeu no quintal e grita enquanto atira sandália, sapato, tudo que tem por perto em cima do marido "SEU IDIOTA, VAI EMBORA DAQUI!! BEBADO, CALHORDA, ISSO É COISA QUE SE FAÇA?"

Elza bate a porta da casa e tranca, o amigo de Amadeu observa estarrecido e vai falar com o amigo que está estático olhando a reação da esposa:

- Amadeu, ei, você está bem? Se quiser pode ir pra minha casa, pelo menos enquanto....
- GRAÇAS A DEUS!!!!!! ISSOOOOO, ELA ME AMAAAAA, ELA ME AMAAAAAAA, OBRIGADO MEU DEUS, OBRIGADOOOOOOOOOO, ELZAAAAAAAA, EU TE AMOOOOO

Quando amares alguem, é melhor demonstrar logo antes que escutes conselhos dos outros.